Filme do dia (42/2023) – “Pearl”, de Ti West, 2022 – 1918, Texas. A jovem Pearl (Mia Goth) vive em uma fazenda, cuidando de seu pai doente sob o olhar vigilante e severo de sua mãe. Ela aguarda o retorno de seu marido da guerra, enquanto sonha em se tornar uma estrela do cinema. Uma audição na igreja local surge como a chance única de Pearl largar aquela existência e se aproximar de seus sonhos e ela fará qualquer coisa por essa possibilidade.
Prequela de “X”, do mesmo diretor – sim, eu sou dessas que vê continuação de filme que detestou só para ter certeza da própria opinião -, a obra, para mim, foi a redenção de Ti West. Sem aquele monte de premissas equivocadas de “X”, que me fizeram detestá-lo, o filme se revelou uma ótima pedida para quem gosta do subgênero “slasher”. A realidade é que “Pearl” é um filme com um roteiro muito mais trabalhado, onde temos um aprofundamento da personagem Pearl, algo que faltou em “X”. Nesta obra, descobrimos a origem da protagonista e percebemos como a carência e a frustração foram essenciais para que ela desenvolvesse seus instintos e características mais sórdidos. Achei curioso como o diretor consegue fazer da personagem – uma evidente psicopata, sem qualquer empatia por quem quer que seja – uma figura trágica, que desperta muito mais piedade do que raiva ou algum tipo de aversão. Também considerei ótimo o desenvolvimento gradual da protagonista, muito embora sinta uma mudança da personagem em relação a “X”, pois na obra inicial Pearl mostra-se muito mais sexualizada do que na sua continuação, o que seria, no mínimo, sem sentido, dada a juventude da personagem em relação à obra original. Curti o fato de “Pearl” ser um pouco menos explícito que “X” na sua violência gráfica – veja bem, eu disse um pouco, a obra não deixa de ser um “slasher” por isso tenha certeza de que, se eu gostei, é porque a obra tem virtudes que vão além do subgênero, do qual eu assumidamente não gosto. Certo é que Ti West consegue criar aquele climão de tensão crescente, aproximando a obra do terror psicológico, meu nicho predileto do gênero. A narrativa é linear, em um ritmo moderado e constante. Gostei demais do desenho de produção – tudo é muito colorido, trazendo uma leveza visual completamente contrária aos sórdidos acontecimentos que vão tendo espaço na narrativa. Da mesma forma, adorei a fotografia do filme, que traz cores muito saturadas e brilhantes e alterna momentos de muita claridade - remetendo ao ótimo “Midsommar” (2019) – nas cenas externas, com a escuridão das cenas no interior da residência da família. O elenco traz de volta a ótima Mia Goth, no papel de Pearl jovem – aqui ela tem a chance de mostrar muito mais seu talento, construindo com mais volume a personagem. A expressão de Pearl na cena final é incrivelmente poderosa e desperta tantos sentimentos contrários!!!! No elenco, ainda, David Corenswet, Tani Wright, Matthew Sunderland, Emma Jenkins-Purro e Alistair Sewell, todos ótimos – destaco a interpretação de Matthew Sunderland como o pai entrevado de Pearl, pois demonstrar tantas emoções sem poder mexer quase nenhum músculo é fantástico. O filme é ótimo, infinitamente superior a “X” (que nem é ruim, na verdade, o que é péssimo são as questões subjetivas da obra). Recomendo, viu, é bem bom e acho que Ti West tem muito futuro no gênero.
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