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hikafigueiredo

"Projeto Flórida", de Sean S. Baker, 2017

Filme do dia (68/2018) - "Projeto Flórida", de Sean S. Baker, 2017 - Em um hotel decadente no entorno do complexo de parques da Disney, na Flórida, vivem Halley (Bria Vinaite) e sua pequena filha Moonee (Brooklynn Prince). Como vários outros moradores do hotel, Halley vive na quase miséria, enquanto Moonee passa as modorrentas férias de verão criando problemas com seus amigos, sempre sob os olhos vigilantes de Bobby (Willem Dafoe), o gerente do local.





FANTÁSTICO!!!! É o mínimo que se pode dizer do filme. Sensível, cirúrgica e sutilmente cruel, a obra escancara o lado oculto - e podre - do local "mágico" da "Terra das Oportunidades". Não, o ambiente literalmente cor-de-rosa, repleto de propagandas e letreiros felizes, não tem nada de bonito, nada de colorido. A um passo dos turistas alegres e abonados, sobrevivem centenas de famílias disfuncionais e miseráveis, sem qualquer perspectiva, atolados em dívidas e imersos em problemas de todas as espécies. Halley é o exemplo típico do morador daqueles hotéis vagabundos de beira de estrada que orbitam os parques - desbocada, arruaceira, agressiva, envolvida em problemas com a polícia e dada a pequenas contravenções. Moonee, por sua vez, é um reflexo de Halley - mal-criada, "marrenta" e encrenqueira, a menina passa os dias à-toa, procurando distração naquele ambiente pouco salutar. O filme - excepcional - consegue, a um só tempo, mostrar toda a feiura da situação e, ao mesmo tempo, encher de poesia a história. Moonee, sob toda aquela marra e aquele vocabulário de estivador de porto, não deixa de ser criança um só minuto do filme - ela brinca, faz de conta, sonha, ri e, em certo momento, mostra, inclusive, a sua fragilidade infantil, à despeito de todo aquele jeito malandro de ser. Já Halley, apesar de ser toda, TODA errada, mostra-se amorosa e protetora com Moonee, como qualquer mãe padrão. Veja bem, não é fácil conciliar crítica social com ternura - e a obra faz isso suuuuuper bem! O personagem de Willem Dafoe, por sua vez, é quase um pai para as crianças carentes do lugar e se ele passa quase que o tempo inteiro escorraçando as crianças das dependências do hotel, ele as protege e defende de tudo, até mesmo de seus dramas pessoais. O filme é todo delicado e sutil - as cenas de Moonee na banheira, as quais ocultam um segredo, me pegaram desprevenida como um súbito tapa na cara - incrível, incrível, incrível!!! A dinâmica entre os personagens - não só entre Halley e Moonee, mas entre essas e seus amigos e Bobby é especialmente bem construída. E a cena final???? Caaaaaara... que cena final (queria falar sobre ela, mas não dá para esfregar spoiler na cara de quem ler isso... :/ )!!!! Esteticamente o filme retrata as contradições - tudo é muito colorido, tudo remete a sonhos e fantasias, aos mesmo tempo que todos os lugares evidenciam sua decadência. Adorei os diálogos, em especial das crianças. No que se refere às interpretações, Willem Dafoe fez por merecer sua indicação para concorrer ao Oscar de Ator Coadjuvante, ele está incrível!!! Bria Vinaite também está ótima como a toda errada Halley. Mas não tem jeito, quem rouba a cena completamente é a pequena Brooklyn Prince - pensa em alguém que tem talento e carisma desde os elétrons de seus átomos corporais, essa é a Brooklyn!!!! Ela está MARAVILHOSA o filme inteiro, mas na cena final ela esmerilha... e ainda me arrancou lágrimas vorazes como há tempo não acontecia. O filme foi mega esnobado no Oscar, merecia estar concorrendo ao melhor filme do ano.. Sério... amei... gamei... voltei para casa completamente enternecida pela história. Não, não é um filme para vocês verem, é obra para saborear. NÃO DEIXEM DE ASSISTIR!!!!!!!

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