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hikafigueiredo

"Rumo à Felicidade", de Ingmar Bergman, 1950

Filme do dia (229/2018) - "Rumo à Felicidade", de Ingmar Bergman, 1950 - Os violinistas Marta (Maj-Britt Nilsson) e Stig (Stig Olin) conhecem-se na orquestra comandada por Sonderby (Victor Sjöström) e logo começam uma relação, inicialmente fria e racional que, progressivamente, ganha força e importância. No entanto, o envolvimento de Stig com outra mulher poderá balançar a estrutura da relação com Marta.





Como todas as obras de Bergman, está aqui também reveste-se de extrema complexidade, desenvolvendo, concomitantemente, diferentes temas que são abordados tanto em nível racional, quanto no sentido sensorial. O foco principal, aqui, concentra-se na construção e reconhecimento da felicidade - não a felicidade pontual e momentânea, mas, como o próprio personagem Sonderby menciona, a felicidade em seu estado absoluto, a felicidade plena, que a tudo abarca e eleva o espírito de quem a vive a outro plano. Lógico que essa noção apresentada na obra é mais facilmente compreendida do ponto de vista emocional - algo como um "estado de graça", um sentimento de completude, um transbordamento - do que do racional, motivo pelo qual é bem difícil de colocar em palavras. No filme, Stig e Marta teriam, à sua frente, toda essa imensidão nomeada de "felicidade", mas, Stig, cego pelo seu egoísmo, sua arrogância, sua imaturidade e, acima de tudo, pelo seu orgulho, seria incapaz de reconhecer essa condição. O filme mergulha fundo na complexidade das relações humanas, e, em especial, naquelas pautadas em amor e afeto (diria que a obra foi um belíssimo laboratório para que Bergman fizesse, anos depois, em 1973, o fantástico "Cenas de um Casamento"). O relacionamento de Stig e Marta, desde o princípio, fundamenta-se na força e determinação de Marta, cujo espírito parece inquebrantável. Stig, ao contrário, parece focado apenas nas suas demandas e, infantilmente, não consegue aceitar seu talento medíocre que o torna incapaz de alçar o posto de solista na orquestra e responsabiliza todos por seu fracasso - admito que, lá pelo meio do filme, o egocentrismo e a falta de autocrítica de Stig me irritaram tanto que eu pensei em desistir da obra. A cena em que Marta, em trabalho de parto, "consola" Stig que está muito preocupado consigo mesmo é emblemática (e é de dar nos nervos). O reconhecimento da felicidade plena é percebida antes por Sonderby e apenas tardiamente por Stig. O filme propicia tantas emoções que é difícil descrever!!!! A obra tem um desenvolvimento temporal próprio - inicia com um evento trágico, passa para um longo flashback, retorna para o tempo do acontecido e desenvolve-se a partir daí o que eu diria ser uma epifania de Stig. A obra tem uma linda fotografia P&B, mas é na trilha sonora que se estabelece a principal relação entre forma e conteúdo, com evidente destaque para o trecho final em que a orquestra executa "Ode à Alegria", da 9a Sinfonia de Bethoven, momento da epifania de Stig. As interpretações de todos estão muito boas, mas talvez pelo extremo respeito que tenho por Victor Sjöström desde que assisti a "Morangos Silvestres" (Ingmar Bergman, 1957), não consigo não destacá-lo, com seu personagem sóbrio, antiquado, mas, acima de tudo, observador e consciente do que acontece naquela relação que se desenvolve à sua frente. Desnecessário dizer que é uma obra excepcional. Assistam a esse e a tudo mais que puderem do diretor.

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