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hikafigueiredo

"Saint Maud", de Rose Glass, 2019

Filme do dia (212/2021) - "Saint Maud", de Rose Glass, 2019 - A jovem Maud (Morfydd Clark) é uma religiosa e devotada enfermeira particular que é contratada para cuidar da ex-bailarina Amanda (Jennifer Ehle), a qual sofre de um câncer terminal. Logo Maud interpreta que sua missão no mundo é salvar a alma de Amanda, uma pessoa mais dedicada aos prazeres mundanos que às bênçãos divinas, tornando-se obcecada por sua paciente.




Situando-se na fronteira entre o terror psicológico e o drama, o filme discorre sobre inadequação, solidão, fanatismo religioso, obsessão e loucura. Ao longo dos 84 minutos de duração da obra, observamos a luta da obsessiva Maud para trilhar o caminho que acredita levar ao seu Deus, ao mesmo tempo em que luta contra dúvidas, incertezas e a tentação do mal. Como a narrativa é centrada na protagonista, temos certo olhar parcial quanto aos acontecimentos a ela relacionados - ainda que, em momento algum, duvidei da pouca sanidade mental da personagem. Apesar de toda a religiosidade de Maud, ela constantemente se questiona acerca de seus atos, se sua interpretação dos desígnios de Deus está correta e chega a flertar com a vida mundana, muito embora não se adapte a ela, evidenciando seu claro desconforto e total inaptidão para a vida em sociedade. O terror psicológico do filme situa-se justamente na insanidade da protagonista, o que me remeteu ao ótimo "Repulsa ao Sexo" (1965). Também vi um diálogo do filme com as obras "Ondas do Destino" (1996), "Nada de Mau pode Acontecer" (2013) e "14 Estações de Maria" (2014), três dramas pesadíssimos que tratam de fanatismo religioso e crença cega em supostas missões divinas. A narrativa é linear, por vezes invadida pelas alucinações da protagonista. O ritmo é moderado, adequado para um filme que lida com suspense e tensão. A atmosfera é sombria, há um peso constante, uma angústia que permeia toda a narrativa. O filme traz uma fotografia escura, numa paleta de cores muito sóbria e triste, mas sem grandes invencionices no que tange a enquadramentos e opções de planos. A trilha sonora é repleta de sons graves, desconfortáveis aos ouvidos. Gostei demais do elenco quase exclusivamente feminino, com destaque para a ótima Morfydd Clark como a delirante Maud, cujo comportamento errático e descompensado abre espaço para a atriz mostrar todo seu talento; Jennifer Ehle também mostra um trabalho consistente, ainda que sua personagem não seja desenvolvida em profundidade. Talvez por gostar do tema e dos gêneros terror e drama, eu gostei bastante do filme e me surpreendeu positivamente. Recomendado.

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