top of page
hikafigueiredo

"Um Quarto em Roma", de Julio Medem, 2010

Filme do dia (82/2018) - "Um Quarto em Roma", de Julio Medem, 2010 - Alba (Elena Anaya) e Natasha (Natasha Yarovenko) são duas estrangeiras de passagem por Roma. As jovens conhecem-se em um bar e Alba convence Natasha a subir até seu quarto de hotel. Dá-se início, então, a uma longa jornada de descoberta e autoconhecimento para ambas as moças, que só poderá durar aquela madrugada, pois ambas retornarão para seus países de origem logo na manhã seguinte.





O filme foca sua atenção na construção de uma intimidade física e emocional entre as duas personagens. Eu achei muito interessante e envolvente como as jovens, pouco a pouco, como num jogo, revelam-se e entregam-se uma para a outra. Inicialmente, as informações trocadas são fantasiosas, muito mais aspirações das personagens do que meras mentiras. Mas, ao longo da madrugada, ambas passam a aprofundar suas confissões, revelando fatos e sentimentos extremamente íntimos, depositando, uma na outra, uma confiança jamais compartilhada. A elaboração afetiva das personagens - cheia de intimidade e urgência, já que o tempo é curto - é extremamente delicada e gradual, muito bem mesurada. Já a forma como se dá a construção da intimidade física... de boa, não agradou na mesma medida não. Apesar de melhorar no decurso da narrativa até quase sumir ao final da obra, a questão física entre as moças, no início, não tem nada de feminina. Tive a certeza de que a história era sobre um breve relacionamento lésbico imaginada por um homem cis. Isso porque o contato físico entre as garotas se dá em moldes absurdamente fetichistas, evidentemente para agradar os olhos do público masculino. É óbvio que mulheres - hétero ou homo - fazem sexo casual, ninguém precisa estar completamente apaixonado para ter uma noite tórrida com alguém. O problema é que as cenas de sexo entre as personagens não soaram reais, pareciam feitas para uma revista masculina, algo bem diferente do que vi em "Carol" ou "Azul é a Cor Mais Quente". E não só isso: as personagens, em momentos pontuais, agiam de maneira não feminina, como na cena em que Alba conta uma passagem trágica de sua vida e, logo em seguida, quer fazer sexo com Natasha, ou, ainda, quando Natasha revela um determinado assédio que sofreu e que ela achou "sedutor" - não, nenhuma dessas cenas fazem sentido no universo feminino, são puro fetiche do diretor (cara, aprende que assédio é assédio, nunca é "sexy"!). Pelo menos essa percepção foi diminuindo com o passar do tempo e, ao final, o contato físico entre as jovens já não continha a mesma nuance fetichista do começo. A propósito - o funcionário do hotel Max, contraponto masculino da história, é uma figura completamente dispensável, não há qualquer necessidade dele ali. Formalmente, a obra é tradicional, desenvolve-se em tempo cronológico e não conta com nenhuma grande inovação na linguagem. A fotografia, muito caprichada, belíssima, faz uso de enquadramentos bem sofisticados - gostei, em especial das cenas em plongée absoluto (câmera perpendicular ao solo). A direção de arte também merece destaque, apesar de que, em alguns momentos, tive a sensação de estar em uma grande propaganda da Givenchy (ou Chanel ou Carolina Herrera ou whatever). As interpretações, na minha opinião, ficaram um pouco refém daquele tom fetichista já (exaustivamente) comentado e, por isso, perderam um pouco da naturalidade - as meninas não são ruins, mas dava para melhorar, expor mais envolvimento, em especial nos momentos de intimidade física. A obra é equilibrada, tem méritos, mas também "escorrega" em alguns momentos. Acho que vai agradar mais o público hétero do que o gay. Gostei, mas com ressalvas.

1 visualização0 comentário

Yorumlar


bottom of page