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  • hikafigueiredo

"A Floresta que se Move", de Vinícius Coimbra, 2015

Filme do dia (193/2020) - "A Floresta que se Move", de Vinícius Coimbra, 2015 - Elias (Gabriel Braga Nunes) é um alto executivo de um banco. Um dia, ele se depara com uma bordadeira que prevê que ele será elevado ao cargo de vice-presidente do banco em um dia e presidente no dia seguinte. Ele narra tal previsão à sua esposa Clara (Ana Paula Arósio), que passa a instigar a ambição do marido.




Sim, você já viu essa história antes. A obra é uma versão atualizada de Macbeth , de William Shakespeare, mantendo a lógica da peça, mas trazendo a narrativa para os dias de hoje. Evidentemente, a história é ótima, afinal baseada na obra do autor inglês, mas sinto que falta algo no filme. Eu acredito que o que falta na obra é uma certa sutileza - algumas cenas poderiam ser melhor trabalhadas, como a cena do jantar com os acionistas, que eu achei, por falta de palavra melhor, grosseira. Mas o filme não é ruim e tem, claro, virtudes. O texto mescla diálogos comuns, atuais, com partes do texto original da peça, e até acho que o diretor conseguiu combinar bem estes dois momentos, sem pesar demais quando do uso das falas originais. Gostei da construção dos espaços, ambientes opulentos, que despertariam, facilmente, a atenção de pessoas mais ambiciosas, como Elias e Clara. Por outro lado, o filme tem uma estética muito "global", merecia um olhar mais autoral. A obra tem uma fotografia muito bonita, com o uso frequente de plongées e contra-plongées muito bem colocados, como nas cenas das árvores, do pesadelo com sangue e da banheira, visualmente bem impactantes. Gostei de algumas soluções criativas, como a questão da "floresta que se move". E chegamos a um ponto crucial: as interpretações, lembrando que o texto original é de uma peça, o que, por si só, já exigiria mais em termos de interpretação. E acho que aqui temos o calcanhar de Aquiles: Gabriel Braga Nunes e Ana Paula Arósio podem não ter feito feio - eles não são péssimos atores, seria injusto afirmar isso - mas eles não alcançaram a força que os personagens exigem. A "Lady Macbeth" de Ana Paula Arósio não é suficientemente ardilosa, falta um quê em sua manipulação do marido; já a Gabriel Braga Nunes falta -lhe a sanha, falta energia, não sei explicar. Quem se saiu melhor nesse quesito foram Ângelo Antônio como César (na peça, o personagem Banquo) e Nelson Xavier como Heitor (na peça, o rei Duncan). Um dúvida: o que foi aquele visual "O Náufrago" de Fernando Alves Pinto? Gente, por quê??? Difícil ver o filme e não pensar em outro que também adaptou a peça para outra época: "Trono Manchado de Sangue" (1957), de Akira Kurosawa, com os excepcionais Toshiro Mifune e Isuzu Yamada como "Macbeth" e "Lady Macbeth", respectivamente. Meu... a comparação é até covardia, este é um dos melhores filmes do diretor japonês (e meu filme predileto do mestre) e as interpretações de Mifune e Yamada são, com o perdão da expressão, fooooooda!!!!! Acho que isso pesou também ao ver a obra de Vinícius Coimbra. Enfim, é um filme interessante, tem, sim, qualidades, mas, está aquém do seu potencial. De qualquer forma, acho que sempre vale assistir para incentivar o cinema nacional.

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