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  • hikafigueiredo

"A Memória que me Contam", de Lúcia Murat, 2012

Filme do dia (88/2017) - "A Memória que me Contam", de Lúcia Murat, 2012 - Um grupo de amigos que resistiu à ditadura militar reencontra-se quando Ana (Simone Spoladore), uma das participantes mais ativas do grupo, dá entrada à UTI de um hospital com uma doença terminal.





A obra é inspirada num grupo real de amigos que participou da resistência à ditadura e, obviamente, teve a intenção de "exorcizar" antigos fantasmas pessoais da própria diretora. Se por um lado a intenção foi boa - trazer à tona um tema que precisaria ainda ser muito mais explorado, consistente nos desmandos da ditadura militar e na coragem dos que ousaram opor-se a ela - por outro, o roteiro é tão particular e tão focado nas questões pessoais da diretora, que se criou um espaço entre a obra e o público. É perceptível a angústia da diretora, mas, pelo menos para mim, ela não conseguiu transmitir, na obra, esse sentimento - em suma, eu, como espectadora, observei essa angústia na tela, mas não consegui "sentir" essa angústia no filme, não participei deste sentimento incômodo. Também não curti os evidentes arrependimento e descrença que emerge da obra - a reflexão que ficou é de que foi tudo em vão, que toda a ação do grupo não passou de uma utopia boba de juventude, que as ações violentas foram desnecessárias (o que eu discordo profundamente). A forma como a questão foi tratada também não me agradou muito - muita verborragia para o meu gosto, muito falatório, pouco uso da imagem, na minha opinião. Achei interessante como a personagem Ana é colocada - ela dialoga constantemente com os demais personagens, como um verdadeiro fantasma do passado, como uma alma penada que assombra a existência dos amigos e de seus filhos. Sou suspeita para falar de Simone Spoladore porque a acho maravilhosa desde que assisti "Lavoura Arcaica", mas acho que ela passou a força necessária à personagem. Irene Ravache, como Irene (o alter-ego de Lúcia Murat), também consegue transmitir bem as dúvidas e angústias que permeiam a personagem (e a diretora). Existem várias pequenas questões que pontuam o filme, como, por exemplo, o papel revolucionário da arte, a luta pelos direitos da população LGBT, a abertura dos arquivos existentes daquele período, mas todas são colocadas como pontos a se pensar e discutir apenas. É uma obra interessante, mas que não me falou à alma. Válido como discussão.

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