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  • hikafigueiredo

"Almas à Venda", de Sophie Barthes, 2009

Filme do dia (02/2021) - "Almas à Venda", de Sophie Barthes, 2009 - O ator Paul Giamatti encontra-se ensaiando a peça teatral "Tio Vanya", de Tchecov, e sente o peso emocional do personagem. Esgotado por seu sofrimento psicológico, Giamatti descobre uma empresa que extrai e armazena almas para aliviar as dores de seus proprietários. Incentivado por seu agente, Giamatti passa pelo processo de extração, mas descobre que a intensidade da alma é essencial para a arte da interpretação.





Imagine um meio rápido e indolor de extrair todas as aflições de sua vida. Por outro lado, imagine uma existência sem emoções, sem intensidade e sem "espessura". Partindo destas hipóteses bizarras, a obra flerta com a comédia e o drama simultaneamente, sem perder de vista o componente para lá de non-sense da história. Este é um filme, no mínimo, curioso, pois usa largamente situações cômicas, mas possui dimensões trágicas e filosóficas impossíveis de ignorar. Começamos pela questão mais óbvia e metafísica - o que é a alma de uma pessoa? Qual a centelha que rege as características pessoais de um ser humano? Onde estão depositadas as dores, as alegrias, os medos que fazem daquela pessoa um ser único? Passamos para outras questões - o que faz uma vida "valer a pena"? Como se dá o processo de criação artística? Como o artista usa sua memória emocional neste processo? Os questionamentos que o filme propicia são quase infinitos e, só por isso, já valeria a pena. A obra "brinca" com a comédia - principalmente através de situações inusitadas - e com o drama - em especial pela figura trágica que o ator Paul Giamatti imprime ao personagem dele próprio, às voltas com questões emocionais e filosóficas diversas. O roteiro tem alguns buracos - como, por exemplo, a forma como Giamatti chega a Nina -, mas que não chegam a condenar o filme. A narrativa é linear, mas entremeada de fragmentos de memórias diversos. O ritmo é moderado e constante. A atmosfera é curiosamente melancólica, apesar das situações cômicas apresentadas. O desfecho é ainda mais melancólico, ainda que não se mostrasse cabível qualquer outro final. Assumo que escolhi o filme para ver exclusivamente pela presença de Paul Giamatti, um ator que eu adoro e que acho subestimado, e me surpreendi ao vê-lo interpretando a si próprio - acho que passei a gostar ainda mais dele ao perceber sua capacidade de rir de si mesmo (quando sua alma é desprezada em detrimento à de Al Pacino... rs). O ator mostrou toda a sua versatilidade ao se interpretar com e sem alma - duas situações completamente diferentes. A fabulosa Emily Watson faz uma pequena ponta na obra, interpretando Claire, esposa de Giamatti. No elenco, ainda, David Strathairn como Dr. Flintstein e Dina Alexandrowna Korsun como Nina. Destaque para as cenas de ensaio de "Tio Vanya" (a primeira com alma, a segunda sem alma). Olha... é um filme bem diferentão, com uma pegada estranha, mas rico em desdobramentos. Eu gostei, mas acho que não é para qualquer público.

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