"Amém", de Costa-Gavras, 2002
- hikafigueiredo
- 19 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
Filme do dia (85/2021) - "Amém", de Costa-Gavras, 2002 - Alemanha, década de 40. O jovem oficial da SS nazista Kurt Gerstein (Ulrich Tukur) começa a trabalhar como engenheiro junto ao exército alemão. Ele desenvolve um gás para desinfecção de superfícies e ambientes contra o tifo. Ocorre que tal gás era profundamente tóxico e, rapidamente, passou a ser utilizado em câmaras de gás para assassinar prisioneiros judeus em campos de concentração. Ao tomar conhecimento dessa atrocidade, Kurt, extremamente cristão, mobiliza-se para denunciar o genocídio dos judeus, primeiro para o pastor de sua igreja, depois para um cardeal católico e, por fim, para o próprio papa. Contando com a ajuda de um jovem padre jesuíta, Riccardo Fontana (Mathieu Kassovitz), o oficial passa a travar uma batalha contra o tempo para tentar salvar a vida de milhares de judeus.

Baseado em fatos reais - Kurt Gerstein existiu de verdade e realmente não poupou esforços para denunciar as atrocidades cometidas pelos nazistas contra judeus e ciganos -, o filme foca nas relações extremamente viciadas entre o Vaticano e o III Reich, onde o Papa Pio XII silenciou quanto ao genocídio de mais de um povo, alegando necessidade diplomática, mas com evidente vistas à manutenção do próprio Vaticano, evitando assim o confronto direto contra a Alemanha Nazista, a certa invasão e a muito provável espoliação de suas riquezas. Em outras palavras, Pio XII estava muito mais preocupado com a manutenção do poder e das posses da Igreja Católica do que com qualquer alma, cristã ou não. Sendo um dos (muitos) podres da Igreja Católica, imagino que o filme tenha incomodado muita gente da Santa Sé, pois, sem dúvida, foi uma postura vergonhosa por qualquer ângulo que se olhe. A obra é estupenda pela crítica que faz às religiões cristãs em geral e à Igreja Católica em particular. A narrativa é linear e o ritmo, intenso. A atmosfera é de urgência, quase desespero, pois os personagens sentem-se correndo contra o tempo enquanto milhares, milhões, de pessoas morriam - e Costa-Gavras usa de um expediente muito eficiente para dar essa dimensão de tempo que passa e cadáveres que se acumulam: a todo momento observamos os trens que se alternam, primeiro cheios (de prisioneiros), com as portas fechadas, e, depois, já vazios, com as portas escancaradas, voltando para buscar uma nova leva de futuros mortos. No elenco, Ulrich Tukur interpreta o indignado oficial da SS (a história que corre é que ele entrou na SS como forma de se infiltrar, pois, tudo indica, era profundamente contra Hitler e sua política) - o ator está bem, ele consegue transmitir o desespero do personagem em contar ao mundo o que acontecia dentro das fronteiras alemãs; No papel de Riccardo Fontana, Mathieu Kassovitz, também ótimo como o jovem padre incrédulo dos rumos tomados pelo Vaticano na condução de seu rebanho. Esta é uma obra polêmica como deveria ser, extremamente bem dirigida por Costa-Gavras. O filme foi agraciado com o Prêmio César de Melhor Roteiro, mas ainda concorreu nas categorias de Melhor Filme, Direção, Fotografia, Música Original, Edição de Som e Ator (Mathieu Kassovitz). Eu AMEI o filme e recomendo demais.
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