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“A Mulher que Nunca Existiu”, de Mehdi Barsaoui, 2025

  • hikafigueiredo
  • há 11 minutos
  • 3 min de leitura

Filme do dia (40/2025) – “A Mulher que Nunca Existiu”, de Mehdi Barsaoui, 2025 – Após sobreviver a um terrível acidente, mas ser dada como morta, Aya (Fatma Sfar) vê a oportunidade de sair incógnita de sua pequena cidade no sul da Tunísia para a capital, Tunis, recomeçar sua vida. No entanto, após tornar-se a principal testemunha em um inquérito policial, Aya vê sua nova identidade severamente ameaçada.




 

Acho que todo mundo que já leu minhas resenhas sabe que eu sou bem condescendente com os filmes e sempre procuro neles alguma virtude e ponto positivo a destacar. É muito raro eu desancar completamente um filme, sempre penso nas dificuldades enfrentadas pela produção para finalizar a obra e acho injusto criticá-la com excessiva veemência. Mas para tudo há exceção - e aqui chegamos a esse filme. Ruim, hein... ruim com força e vontade. Fui assistir ao filme por achar o argumento interessante: imagine quantas possibilidades se abrem para uma pessoa – uma mulher, em um país árabe – que tem chance de recomeçar, reinventar-se do zero, sem o peso de uma história, sem o julgamento de uma família, de amigos ou meros conhecidos, e com uma vida pela frente? Pois o filme desperdiça por completo o ótimo argumento e, ao invés de apostar em um roteiro que, de alguma forma, abrisse uma reflexão sobre a liberdade de opções, sobre o abandono de amarras, ou sobre a solidão e a escolha de deixar para trás seus afetos e história, prefere enveredar por uma narrativa esdrúxula sobre questões jurídicas e corrupção policial, algo tão são nexo que é até difícil explicar. Na história, Aya é explorada por seus pais, os quais arrancam cada tostão que ela ganha como empregada em um hotel para pagar dívidas da família. Ela é amante do gerente do hotel, o que lhe garante estabilidade no emprego, mas que também é garantia de ser execrada caso o fato de não ser mais virgem venha à tona. Quando o ônibus em que ela se encontrava sofre um acidente brutal e apenas ela escapa com vida, sendo ela, no entanto, dada como morta, ela foge para a capital do país, onde ela começa uma vida de prazeres fáceis e sem qualquer planejamento. Em uma boate, Aya presencia um assassinato causado por policiais à paisana e se torna uma testemunha-chave do crime – e aí a narrativa, que já não ia bem das pernas, degringola de vez. O roteiro é cheio de informações desnecessárias, colocadas ali para justificar pontos frágeis da narrativa – o gerente amante, por exemplo, só existe para justificar como Aya sabia a senha de um cofre cheio de dinheiro que ela furta para se manter. Ora, não era mais fácil ela ter algum dinheiro dela e procurar um emprego na nova cidade? Pois o roteiro é INTEIRO assim, cheio de remendos feitos para explicar coisas inexplicáveis e sem razão de ser. Poderia ficar o dia todo ressaltando momentos em que o roteirista sacou, do nada, uma explicação frouxa para um ponto sem sentido da história. Enfim: o roteiro é mambembe, esvaziou todo o potencial da história e seguiu por um caminho errático cheio de péssimas escolhas. Aliás, a parte “jurídica” da narrativa é também péssima e, ou a Tunísia tem um regime jurídico bem esquisito, ou o roteirista não entende nada de processo penal (aposto mais nessa segunda opção). Bom, fato que eu detestei a obra, fiquei com vergonha alheia dela. Tecnicamente, é um filme certinho, bem convencional, sem criatividade ou ousadias de qualquer tipo. Totalmente acrítico, sequer serve para conhecermos um pouco mais do país onde a história se passa. Para mim, a única coisa que se salvou foi a interpretação da atriz Fatma Sfar, que, se não é brilhante, também não é incompetente, diferentemente do resto do elenco, que parece estar lendo os diálogos em um teleprompter. Destaque negativo: o ator Nidhal Saadi como delegado – o personagem já é péssimo, construído sem qualquer lógica, raso como um pires, mas piora com a interpretação canhestra do ator. Gente, o filme é ruim, hein, de boa... não percam seu tempo. Atualmente em cartaz nos cinemas.

 
 
 

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