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  • hikafigueiredo

"Anti-Herói Americano", de Shari Springer Berman e Robert Pulcini, 2003

Filme do dia (169/2021) - "Anti-Herói Americano", de Shari Springer Berman e Robert Pulcini, 2003 - Harvey Pekar (Paul Giamatti) é um homem comum, com um emprego banal e uma vida miseravelmente vulgar. Fã de quadrinhos e colecionador de discos, Harvey faz, nos anos 60, amizade com o famoso ilustrador Robert Crumb e, anos depois, passa a fazer roteiros para comic books, ilustrados pelo próprio Crumb, tornando-se, assim, uma celebridade no meio das HQs.





Que filme bom! Que obra viva, original, dinâmica e criativa! Aliando animação e live action e mesclando a biografia filmada do retratado Harvey Pekar com cenas documentais dele próprio, o filme traz um pouco da história do autor e de sua obra. Harvey Pekar ganhou notabilidade com histórias que retratavam a vida cotidiana de pessoas comuns, com foco especial no próprio Pekar - sim, ele é personagem de si mesmo em histórias que mostram a realidade mais comezinha de alguém sem atrativos ou feitos extraordinários. O personagem real Harvey Pekar é um sujeito mal-humorado, rabugento, pessimista, neurótico, obsessivo-compulsivo e, acima de tudo, "sincericida" e talvez seja justamente por tudo isso que seu alter-ego nas HQs seja tão curtido e admirado por críticos e fãs, pois não maquia, em momento algum, a realidade, algo no estilo "a vida como ela é". O filme tenta, com sucesso, trazer para as telas a atmosfera reinante nas obras de Pekar - o pessimismo, a melancolia, a rabugice, a ironia e uma certa comicidade que todas estas coisas juntas acabam ganhando. O filme, ainda, tem um elemento metalinguístico nas cenas em que o próprio Harvey Pekar aparece acompanhando as filmagens e falando sobre o filme e sua vida. A obra é muito dinâmica por pular de live-action para animação e desta para cenas dos quadrinhos e sua versão filmada ou, ainda, cenas reais documentadas durante a produção do filme - não há monotonia na obra. Além de uma edição criativa e movimentada, o filme ainda traz uma trilha sonora sofisticada, repleta de bom jazz e bons blues - o que não surpreende, uma vez que Pekar é um colecionador de vinis com ênfase nestes dois gêneros. Nas partes filmadas, Pekar é interpretado pelo fantástico Paul Giamatti - um tremendo ator que só não é mais conhecido por estar a anos-luz do "padrão estético hollywoodiano". Giamatti tem muito êxito em retratar essa personalidade negativa e transtornada do autor e até mesmo o cenho eternamente fechado de Pekar está presente na interpretação do ator. Além de Pekar, temos a presença de sua esposa Joyce, no filme interpretada magnificamente por Hope Davis. Como Pekar, Joyce é uma figura sui-generis, uma verdadeira alma gêmea do perturbado autor. O filme é muito bom, muito criativo, tendo sido indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, categoria em que foi ganhador em diversos festivais mundo afora. Também foi agraciado com o Prêmio do Grande Júri no Festival de Sundance, principal prêmio do cinema independente norte-americano. Para quem não viu, recomendo muito, já avisando que não se trata de um filme convencional (aliás, seu maior mérito!).

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