Filme do dia (18/2023) – “As Três Noites de Eva”, de Preston Sturges, 1941 – Ao voltar de um longo período na Amazônia onde participava de pesquisas sobre cobras, o herdeiro milionário Charles Pike (Henry Fonda) conhece a golpista Jean (Barbara Stanwyck), que só pensa em se aproveitar dele. No entanto, os planos de Jean dão errado quando ela se apaixona perdidamente por sua pretensa vítima.
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Legítima representante das famosas “screwball comedies” (ou “comédias malucas” em português), a obra traz quase todas as características do gênero: situações inverossímeis, contraposição dos personagens que formam o par romântico da trama, identidades secretas, jogo rápido de respostas, proximidade com a comédia pastelão, choque de classes e desfecho previsível e aliviante. Na trama, o filho ingênuo e meio bobalhão de um milionário conhece, em um navio, uma golpista sensual e esperta que se passa por herdeira. Quando ambos se apaixonam, a moça se vê numa saia justa por não saber como revelar sua verdadeira identidade e condição social. Antes que ela consiga se explicar, um empregado do jovem a delata, motivo pelo qual o rapaz passa a rejeitá-la, ainda que continue por ela apaixonado. O afastamento será momentâneo, pois a moça resolve se vingar, criando uma situação inusitada. Como toda comédia maluca, as situações são completamente irreais, verdadeiras comédias de erros repletas de nonsense, que puxavam para o pastelão e o humor físico e que levavam a um riso fácil e descompromissado. Para os dias de hoje, são situações extremamente inocentes, bobinhas, mas, para a rígida moral dos anos 30 e 40, acenavam com alguma malícia, muito embora inexistissem cenas picantes de qualquer espécie. Como mencionado acima, há o choque de classes na contraposição do ricaço bobalhão e sem nenhum traquejo social com a moça pobre malandra com extrema habilidade social. Outra característica comum do gênero é a presença de personagens femininas com atitude e desenvoltura, bem diferentes das tolas mocinhas clássicas que precisavam ser salvas por algum herói masculino – exatamente o que temos na personagem Jean. O roteiro, também assinado por Preston Sturges, desenvolve-se muito bem dentro da lógica das “screwball comedies”, somando interesse do espectador ao longo da trama, que fica curioso em quê vai dar toda aquela confusão. A narrativa é linear, em ritmo intenso. A atmosfera é sempre leve e agradável, pesando mais para a comédia apesar de ter os dois pés no romance. Do ponto de vista técnico, não temos maiores destaques. No elenco, Henry Fonda dá vida ao ingênuo Charles Pike e faz uso de uma insuspeita veia cômica voltada para o humor físico – o personagem envolve-se em um sem número de situações em que, invariavelmente, acabam em quedas ou “trombadas”; no papel de Jean, a sempre sexy e envolvente Barbara Stanwyck (famosa por figurar como a primeira “femme fatale” do cinema noir ao interpretar a personagem Phyllis, em “Pacto de Sangue”, 1944) – seu trabalho no filme é ótimo, com destaque para a brusca mudança de sotaque quando ela surge como Eva (sem spoilers). Charles Coburn participa como “Coronel” Harrington e Eugene Pallette, como o Mr. Pike. O filme é bem gostosinho e para quem curte comédias malucas é um prato cheio. Cartão de visita para o diretor muito melhor que o complicado “Contrastes Humanos” (1941). Gostei e recomendo.