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  • hikafigueiredo

"Aurora", de F. W. Murnau, 1927

Filme do dia (336/2020) - "Aurora", de F. W. Murnau, 1927 - Um jovem fazendeiro é seduzido por uma mulher da cidade, que o induz a assassinar sua esposa. No entanto, ele é incapaz de realizar o ato, ainda que sua esposa perceba sua intenção inicial. Assustada, sua esposa foge para a cidade grande e ele, arrependido e desolado, vai atrás dela para pedir-lhe perdão.





Se alguém pedisse para que eu definisse esse filme em uma única palavra, eu diria "singelo". Ainda que exista, em teoria, uma violência - o homem que pensa em matar sua esposa - ele nem chega perto de realizar seu intento e, rapidamente, arrepende-se de ter pensado nessa possibilidade. Passa, então, boa parte da narrativa, tentando demonstrar à esposa que ele não seria capaz de fazer qualquer mal a ela e, juntos, ambos conseguem reacender a velha chama que havia entre eles. A história é bobinha, mas ganha volume nas mãos de um diretor estupendo como Murnau, que tem absoluto controle da linguagem cinematográfica e consegue extrair poesia até de um paralelepípedo. Se o início do filme é sombrio devido às idéias assassinas do marido, logo a história muda de atmosfera a ganha ares leves e românticos, quando o casal, paulatinamente, começa a recuperar seus afetos e intimidade. Para os românticos, o filme é doce e esperançoso - eu, que não sou muito romântica, apreciei mais o uso de movimentos de câmera, sobreposições de imagens e enquadramentos ousados do que a historinha água com açúcar. Já no terço final, uma nova tensão é criada, cujo desfecho não revelarei para não tirar a graça do final da obra. Um destaque absoluto é a fotografia P&B, bastante contrastada, evocando o passado expressionista do diretor, recém chegado em Hollywood. Outro destaque é a interpretação muito expressiva de Janet Gaynor que interpreta a inocente esposa, interpretação esta que lhe rendeu o primeiro Oscar de Melhor Atriz da história - Janet Gaynor consegue exprimir, apenas com seu olhar, toda a dor e o medo de perceber as intenções malignas de seu esposo; da mesma forma, quando o casal recupera sua intimidade e reacende a paixão, é através de seu olhar e de seu sorriso aberto que percebemos toda o afeto que ela tem pelo marido. Destaco, ainda, as cenas do fotógrafo e do restaurante, as mais doces imagens do casal, e, ao final, a cena do bote, quando voltamos a ficar tensos - Murnau é extremamente hábil em envolver o espectador, brincando com suas emoções, que vão do enternecimento à tensão em questão de minutos!!! O filme é considerado a obra prima de Murnau - para mim, que não sou muito chegada em romances, não chega a tanto, pois gosto mais de "Nosferatu" (1922), "A Última Gargalhada" (1924) e "Fausto" (1926), mas, é fato que é um filme belíssimo e que merece lugar no panteão das grandes obras cinematográficas. Obrigatório para quem quer conhecer a fundo a história do cinema.

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