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  • hikafigueiredo

"Era Uma Vez em Tóquio", de Yasujiro Ozu, 1953

Filme do dia (221/2018) - "Era Uma Vez em Tóquio", de Yasujiro Ozu, 1953 - Um casal de idosos viaja de sua distante cidade do interior para Tóquio para rever os filhos e os netos. Ocorre que os filhos estão ocupados demais para dar a devida atenção aos pais.





O filme, considerado por muitos críticos e diretores a melhor obra cinematográfica de todos os tempos, discorre, com extremo cuidado, sobre o relacionamento entre pais e filhos, egoísmo/generosidade, sensibilidade/insensibilidade, culpa, solidariedade, hipocrisia e até mesmo sobre a existência humana. O quase desprezo dispensado aos pais pelos filhos Koichi e Shige é de partir o coração e contrapõe-se completamente à atenção que a nora Noriko, viúva de outro filho do casal, oferece aos idosos. A obra esfrega na cara do espectador a urgência de "honrar os pais em vida" e o quanto as relações sociais - em especial, as familiares - estão imbuídas de interesses, egoísmo e hipocrisia. É um filme dolorido, de uma tristeza profunda, ainda que muito contida e discreta, como exige a cultura japonesa. O filme é meticuloso, cada cena é cuidadosamente construída. O ritmo é extremamente lento, de uma lentidão oriental. As emoções despertadas pela obra são "esticadas", aproveitadas até o limite, algo inusual no cinema ocidental, acostumado a oferecer muitas emoções rápidas e superficiais. As interpretações dos atores são, todas, excepcionais, mas destaco as atuações de Chieko Higashiyama como a sorridente e magoada (ainda que não demonstr) mãe; Haruko Sugimura como a egoísta (e horrorosa) filha Shige; e Setsuko Hara como a doce, dedicada e generosa Noriko. Queria destacar uma cena - a que Shige pede o xale da mãe e pergunta sobre certo traje para a a irmã e para a cunhada (tentando evitar o spoiler) - como uma das cenas mais tristes e amargas que lembro de já ter visto em um filme (e que revela tantas coisas com tão poucas frases). O filme é excepcional, mas há que se estar acostumado à lentidão do cinema japonês, caso contrário, o ritmo se tornará intolerável. Obra prima.

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