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  • hikafigueiredo

"O Banheiro do Papa", de Enrique Fernández e César Charlone, 2007

Filme do dia (322/2021) - "O Banheiro do Papa", de Enrique Fernández e César Charlone, 2007 - Uruguai, 1988. A pequena cidade fronteiriça de Melo é escolhida como um dos locais de passagem do Papa João Paulo II. Estima-se que a passagem do Papa trará 50 mil pessoas à cidade, de forma a alavancar a pequeníssima economia local. Dentre os moradores está Beto (César Troncoso), que resolve usar todas as suas economias para construir um pequeno banheiro público, cuja cobrança pelo uso lhe devolveria o dinheiro com lucro.





Baseado em fatos reais, este drama delicado discorre sobre sonhos e desespero - o desespero daqueles que vivem na pobreza e aguardam tempos melhores. A pequena cidade de Melo agita-se com a passagem do Papa e a possibilidade de ver milhares de turistas uruguaios e brasileiros inundando as ruas citadinas e alavancando a modesta economia local. Diante da chance única de melhorar de vida com o evento, milhares de pessoas - principalmente as mais humildes - tratam de garantir um espaço no comércio que se formou - centenas de barracas são providenciadas e um sem número de artigos diversos, dentre bandeiras, lembranças e gêneros alimentícios, preparados para a venda. O filme acompanha alguns dos moradores da cidade desde as vésperas do evento e seus esforços em deixar tudo pronto para o grande dia. Pessoas passam a vender seus bens para adquirir insumos; pessoas contraem empréstimos, colocando suas casa como garantia; pessoas empenham todas suas economias para montar seu pequeno negócio de um único, mas glorioso, dia. O personagem Beto é uma dessas pessoas. Trabalhando como pequeno contrabandista, atravessando diariamente a fronteira com o Brasil em uma bicicleta velha, Beto vê, no evento, a oportunidade de abandonar o contrabando e passar a trabalhar com alguma atividade lícita. A obra acompanha estes dias que antecedem a passagem do Papa, mostrando a dura realidade daqueles moradores. A narrativa é linear, em ritmo moderado. A atmosfera é de inquietação e ansiedade. O roteiro, embora simples, é muito bem desenvolvido e não perde tempo com histórias paralelas. O filme conta com uma bela fotografia, em especial nas poéticas cenas de natureza, quando Beto pedala pelas estradas da região. A trilha sonora é marcada por músicas típicas. O elenco é composto por César Troncoso como Beto, numa interpretação inspirada e dolorida; Virginia Méndez como Carmen; Virginia Ruiz como Silvia; e Nelson Lece como o odioso e corrupto personagem Meleyo. A obra é um retrato pungente da necessidade e da esperança, com um desfecho dramático e doloroso. Muito bom, mas prepare-se para as lágrimas.

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