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  • hikafigueiredo

"O Beijo da Mulher-Aranha", de Hector Babenco, 1985

Filme do dia (70/2022) - "O Beijo da Mulher-Aranha", de Hector Babenco, 1985. - Em uma prisão de um país latino-americano, durante a ditadura militar, dois prisioneiros muito diferentes convivem: Luis Molina (William Hurt), um homossexual afeminado, preso por corrupção de menores; e Valentin Arregui (Raul Julia), um preso político submetido a terríveis torturas. O relacionamento conturbado é arrefecido pelas narrativas sobre um filme do romântico Luis.





Baseado no livro de Manuel Puig, o filme discorre sobre amizade, amor, companheirismo, comprometimento, lealdade e cumplicidade. Trata, ainda, de temas como empatia, reconhecer o outro e aceitá-lo como é e conviver com as diferenças. Traz, também, como pano de fundo, um momento delicado da América Latina que é o período dos governos militares de exceção, quando a democracia esteve subjugada e calada e qualquer movimento contrário acabava nos porões das ditaduras. Originalmente situada na Argentina, a história, no filme, não revela a qual país se refere - na realidade, os governos ditatoriais dos anos 60-80 eram muito parecidos e a narrativa poderia perfeitamente se passar na Argentina, Chile ou Brasil, indistintamente, de forma que é realmente desnecessário essa especificação. A obra tem um componente metalinguístico, a partir do momento que temos um filme dentro do filme, consistente no relato de Luis Molina acerca de sua obra cinematográfica predileta. É incrível a química existente entre os personagens tão díspares e que os atores conseguiram apreender e trazer intacta para o filme. A narrativa é majoritariamente linear, mas com a inserção de alguns flashbacks de Luis Molina e Valentin. Por outro lado, temos a constante alternância entre a dura realidade do cárcere e os devaneios cinematográficos da narrativa de Luis, que relata, apaixonadamente, um filme romântico de ambientação desprezível (sem spoilers). O ritmo é moderado, mas bastante adequado para os temas desenvolvidos. A atmosfera geral é de angústia e apreensão, mas, por vezes, assume uma forma idílica quando "embarcamos" na narrativa do filme de Luis. Há diferenças bem marcantes entre a estética dos momentos reais e a dos devaneios do detento - enquanto a realidade é mostrada numa orientação naturalista, o sonho fílmico de Luis é envolto numa aura onírica, com uma fotografia em tons quentes e "esfumaçada", remetendo aos filmes hollywoodianos da década de 40 e 50. Mas, a maior força da obra está nas interpretações da dupla central. Raul Julia está ótimo como o revoltado e angustiado Valentin - sua energia advinda da sua indignação política é arrebatadora e seus momentos de fúria, intercalados por momentos de acolhimento e empatia por seu companheiro de cela, tocantes; quanto a William Hurt, faltam palavras para descrevê-lo como Luis Molina - ele está absolutamente impecável como o romântico, apaixonado e generoso detento e sua delicada movimentação corporal dão o tom da história. Por seu trabalho, William Hurt foi agraciado com o Oscar (1986) de Melhor Ator, além do prêmio BAFTA (1986) na mesma categoria. também recebeu o Prêmio de Melhor Interpretação Masculina no Festival de Cannes 1985. O elenco traz, ainda, Sônia Braga em três diferentes papéis, Herson Capri, José Lewgoy, Nuno Leal Maia, Milton Gonçalves, Patrício Bisso, Fernando Torres, Miriam Pires, Denise Dummont, Wilson Grey e uma curiosa participação de Ana Maria Braga como atriz. O filme foi indicado para o Oscar (1986) de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Filme e Melhor Direção para Hector Babenco. Grande obra, equilibra sensibilidade e denúncia, valendo cada minuto de sua duração. Recomendo demais!

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