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  • hikafigueiredo

"O Horror dos Homens Deformados", de Teruo Ishii, 1969

Filme do dia (265/2021) - "O Horror dos Homens Deformados", de Teruo Ishii, 1969 - O estudante de medicina Hirosuke (Teruo Yoshida) acorda um dia e descobre que se encontra internado em um hospício, sem saber como chegou lá. Absolutamente são de suas faculdades mentais, Hirosuke busca sua liberdade, oportunidade em que acaba matando um homem. Livre, ele tenta encontrar respostas.





O box "Obras Primas do Terror - Horror Japonês" tem sido uma grata surpresa para mim, trazendo obras tanto obscuras como curiosas. Este filme, baseado em duas novelas do autor japonês Edogawa Rampo, tem alguma inspiração no livro "A Ilha do Dr. Moreau', de H. G. Wells. A história disserta sobre o personagem Hirosuke, o qual, ao buscar respostas acerca de seu passado e de recentes acontecimentos de sua vida, acaba descobrindo que um homem fisionomicamente idêntico a ele acabara de falecer - e tal homem teria alguma ligação com o passado de Hirosuke. Investigando a relação do falecido com sua vida, Hirosuke acaba assumindo a identidade do morto, tornando-se assim Genzaburo e convencendo, a todos, de que ressuscitara miraculosamente. Acompanhando os percalços de Hirosuke-Genzaburo, chegamos a uma misteriosa ilha habitada por pessoas terrivelmente deformadas, local onde o pai de Genzaburo estaria com todas as respostas. Ainda que o argumento sugira um filme de terror, temos muito, mas muuuuuito mais do que isso. A obra é uma mistura dos gêneros terror e policial, com elementos de "noir" e com os dois pés no exploitation - para quem não conhece o termo, ele pode ser definido como "cinema apelativo", isto é, aquele tipo de filme que se apoia em temas polêmicos e trata os assuntos de maneira profundamente sensacionalista. Assim, a obra traz desde questões controvertidas, como infidelidade, incesto, insanidade, estupro, assassinato, profanação de cadáver, até cenas que estão ali somente para incomodar ou chocar - nudez desnecessária, tortura, sugestão de relações homossexuais, ingestão de animais estranhos e uma série de outras bizarrices e "nojices", tudo para fazer da obra uma experiência, no mínimo, inquietante. Ate chegarmos na tal ilha, o filme ainda se equilibra dentro de alguma normalidade, mas, quando chegamos na ilha, muito do que temos na narrativa é para deixar o espectador francamente perturbado. Como todo filme exploitation, o roteiro traz soluções estranhas, no mais das vezes inverossímeis e bastante imaginativas. O desfecho com a chegada de um novo personagem me soou como tirar coelho da cartola, mas perto do geral da história, não me deixou assim tão surpresa. As cenas das pessoas deformadas foram as mais inquietantes para mim, principalmente após saber das explicações acerca das origens das deformidades. A narrativa segue certa cronologia, mas há várias cenas de flashback pelo caminho. O ritmo é errático - temos momentos mais pausados e outros bem marcados. A atmosfera inicial é de curiosidade, passando para algo mais sombrio e chegando a um momento em que tudo é muito perturbador (ainda que seja tudo tão exagerado que talvez, para alguns espectadores, isso desmorone qualquer sensação de inquietude). Tecnicamente o filme também é um pouco irregular - temos algumas passagens com fotografia bem caprichada (como as cenas coreografadas de Jogoro - o pai de Genzaburo - na praia) e outras com a fotografia bem padrão. Há certa preocupação em achar enquadramentos estranhos, desequilibrados, tornando a linguagem do filme, por vezes, bem criativa. A direção de arte, no geral, é bastante boa - percebe-se que houve muita liberdade em criar os indivíduos deformados, criando grande estranhamento para o espectador quanto às imagens na tela. Também é perceptível que, quando chegamos às cenas da ilha, a estética se sobrepõe à narrativa - muito do que vemos não tem qualquer lógica, mas o que importa é o impacto causado pelas imagens. Não vou dizer que os personagens são muito bem imaginados e construídos - quase todos os personagens são inverossímeis, caóticos e superficiais - afinal, é um filme assumidamente exploitation, e eu sequer sabia que existia isso no cinema japonês! As interpretações são exageradas e pouco críveis - destaco a participação de Teruo Yoshida (não por ser um trabalho extraordinário, mas pelo protagonismo do personagem na história) e Tatsumi Hijikata (o personagem Jogoro é tão insano que abriu um leque imenso para o ator aproveitar a sandice do personagem). Olha... é um filme esquisitíssimo, tão estranho que nem sei dizer se é bom ou ruim. Pela criatividade de tudo, eu até gostei, mas não recomendo para a geral não - se você não curte coisas bizarras, exploitation, trash, etc, nem pense em ver, pule para outra dica.

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