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  • hikafigueiredo

"Pai e Filho", de Aleksandr Sokurov, 2003

Filme do dia (184) - "Pai e Filho", de Aleksandr Sokurov, 2003 - Um pai relativamente jovem e seu filho de seus vinte anos vivem juntos. O rapaz possui uma namorada que não aceita a relação tão próxima entre pai e filho.





Nesse extremamente lento filme de Sokurov, temos uma exposição silenciosa das relações familiares entre pai e filho. A obra abre espaço para inúmeras discussões relacionadas à questão, tudo de forma sutil, sugerida, nada é colocado em palavras. Gestos e expressões falam por si. Duas questões principais se destacam no filme - a relação de dependência entre os dois personagens e a sugestão de incesto. No que tange à dependência entre os personagens, a obra mostra uma relação de extremo afeto entre pai e filho, mas que, ao mesmo tempo, significa uma prisão. O pai vive para o filho que, por sua vez, não consegue cortar esse cordão umbilical que os une. Ao mesmo tempo em que o filho almeja a libertação (demonstrada pelo sonho onde o pai não aparece), ele colabora para a interdependência ao "chantagear" o pai para que não aceite um trabalho em outra cidade. A relação entre eles é complexa e há uma alternância de ascendência de um sobre o outro que não interfere na dependência emocional entre eles. Nada, nem ninguém, entra nesta relação blindada. Já no que se refere à sugestão de incesto, não parece ter se consumado, mas é evidente o conteúdo sexual da relação entre os dois homens. Seus corpos nus se tocam o tempo todo, a troca de olhares é constante, o ciúme perpassa a relação quando há o contato com o externo, a tensão sexual presente salta aos olhos. A primeira cena do filme já sugere isso, no plano fechado de dois corpos masculinos nus que aparentam uma relação sexual, mas que na verdade é o pai contendo o filho durante uma convulsão. Essa possibilidade de incesto é incômoda, mas, curiosamente, não interfere na beleza da relação fraterna entre pai e filho. É um filme bastante rico em interpretações, até porque nada é explícito. A fotografia em sépia é suave, muito bonita. O ritmo é bastante lento, condizente com o conteúdo emocional da obra. É, ainda, um filme relativamente silencioso, onde a ausência de som colabora com o efeito dramático. Gostei mais da interpretação de Andrej Shetinin (pai) do que de Alexei Nejmyshev (filho) - os olhares do pai para seu rebento é coberto de um amor excepcional. Como nos filmes de Bergman, é uma obra sensorial, que eleva o cinema a um outro patamar e que o aproxima das demais artes. É um belo filme, mas que exige certo trabalho intelectual do espectador em destrinchar a história e seus conteúdos sutis. Vale muito à pena. Recomendo para quem curte filmes mais densos e meio "cabeça". PS - Nada a ver com o filme, mas, tenho que dizer: que saúde aquele pai... rsrsrsrsrsrsrs :D

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