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  • hikafigueiredo

"Vision", de Naomi Kawase, 2018

Filme do dia (231/2021) - "Vision", de Naomi Kawase, 2018 - Jeanne (Juliette Binoche) é uma jornalista francesa que viaja ao Japão atrás de uma mítica erva que nasceria a cada 997 anos, em uma determinada floresta local, e que teria o poder de curar as dores emocionais dos humanos. Lá chegando, Jeanne envolve-se com Satoshi (Masatoshi Nagase), um guarda florestal recluso e relembra seu primeiro amor, vivenciado naquela mesma floresta, muitos anos antes.





A despeito do virtuosismo estético da obra, o último filme da diretora Kawase marca mesmo pelo estranhamento causado pelo roteiro que fica no meio do caminho entre o realismo e a alegoria. A história inicia-se com a chegada da personagem Jeanne à floresta de Nara, acompanhada da intérprete Hana. Até aí, nada de anormal, mas não se engane - a cada minuto, mais e mais elementos fantásticos se somarão à narrativa, que não se decide entre a metáfora e o realismo, revelando-se frágil e pouca densa. A obra busca uma sensorialidade que não alcança - apesar da beleza das imagens, eu não consegui embarcar, em momento algum, em um estado emocional diferenciado, mostrando-se uma promessa vazia de sensações; em outras palavras, eu não consegui mergulhar nas emoções que o filme promete, mantendo-me, como mera espectadora. Nesse sentido, as muitas cenas dos personagens se emocionando e indo às lágrimas não me tocaram, ganhando contornos quase patéticos. A narrativa é não-linear, misturando passado, presente e futuro de uma forma um pouco confusa, mas que se resolve no final. A impressão que eu tive do roteiro é que ele tem "pontas soltas", ou seja, ele não é "redondinho", há questões em aberto mesmo após o desfecho. O ritmo é bem lento e a atmosfera é muito onírica. A obra apoia-se muito na beleza das imagens - a fotografia do filme é um diferencial e a floresta é mostrada em suas minúcias: são dezenas de cenas aproveitando a luz recortada pelas árvores, as sombras, o contraluz, bem como infinitos os planos-detalhes de pequenos animais e gotas de orvalho nas diminutas folhas. A obra também é bastante silenciosa - não apenas por ter pouca trilha sonora, mas também porque a diretora abusa dos longos silêncios dos personagens, muitas vezes interrompidos por frases de efeito. O elenco traz ótimos atores, na minha opinião, mal aproveitados - eu, que sou fanzaça de Juliette Binoche, fiquei incomodada com a direção de atores que pesou na mão. Quem se saiu melhor foram Masatoshi Nagase e Mari Natsuki, respectivamente como Satoshi e a anciã Aki. Aliás, fiquei bem sem saber o que a diretora quis com a última personagem - uma metáfora acerca do tempo? Uma alegoria do espírito da floresta? Sei lá, as intenções da história são pouco claras - e olha que eu estou acostumada a ver filmes herméticos, hein... Em suma: é um filme que aspira mais do que entrega, cheio de intenções metafísicas acerca da solidão, do sofrimento, da cura da dor, da felicidade, da existência humana, mas que permanece na superfície o tempo todo. O estranhamento pelo menos serviu para me manter atenta - não tive sono justamente porque queria ver aonde a história iria dar. No fim, achei um filme fraco por conta de um roteiro mal costurado. Não perderia tempo com ele não.

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