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  • hikafigueiredo

"A Barriga do Arquiteto", de Peter Greenway, 1987

Filme do dia (331/2021) - "A Barriga do Arquiteto", de Peter Greenway, 1987 - O famoso arquiteto norte-americano Kracklite (Brian Dennehy) viaja para Roma com sua esposa Louisa (Chloe Webb) para montar uma exposição para um obscuro arquiteto francês - Boullée - por quem grande admiração. Durante a montagem da exposição, Kracklite acredita que está sendo envenenado pela esposa e passa a ter uma obsessão pela imagem de abdomens masculinos.





Peter Greenway é um diretor que sempre me fascinou. Seus filmes extremamente autorais, com roteiros bizarros, por vezes herméticos, e visualmente deslumbrantes sempre me encantaram. Admito que o que mais me conquistou na sua filmografia foi menos os roteiros curiosos e muito mais a estética refinada, inspirada nas pinturas clássicas e barrocas, cuidadosamente construída. Nesta obra, em particular, temos uma verdadeira ode à arte, em especial à arquitetura e à escultura, cerne da história. O filme, dentre outros temas, trata do fascínio, da obsessão, da concepção e da gestação (tanto no sentido literal, quanto no figurado). O protagonista, desde a tenra infância, foi obcecado pelo arquiteto Boullée. Ele planeja a exposição do seu ídolo e viaja à Roma com sua esposa para colocar em prática sua ideia. Ao longo de nove meses, Kracklite concebe e gesta a exposição, ao mesmo tempo em que sua esposa descobre-se grávida e gesta um filho do casal. Quando o protagonista intui uma doença estomacal - a qual ele imputa a um suposto envenenamento por parte de sua esposa - ele se volta para si mesmo e torna-se obcecado por seu abdômen, assim como a jovem esposa se volta para seu útero grávido. Assim, cada qual concebe, gesta e dá à luz a seu sonho. Sim, o roteiro é mega esquisito (como tudo do diretor), mas, que deslumbre para os olhos!!!! Greenway esmera-se na fotografia e direção de arte de seus filmes e aqui não foi diferente. Apostando em câmeras fixas e planos muito abertos, numa perspectiva teatral, o diretor constrói verdadeiras pinturas. O diretor, ainda, abusa da profundidade de campo - a ação pode acontecer tanto no primeiro plano, quanto lá no limite do foco, mas sempre privilegiando a beleza visual e, frequentemente, a simetria entre os elementos que compõe a imagem. Outra característica do diretor são os travellings laterais (usados ao extremo em outra obra dele - "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante", 1989) - que passam pela cena, acompanhando a ação de atores e figurantes que permanecem fixos. Nesta obra - mais que em outras - ele pontua as cenas com pequenos planos aleatórios, focando, aqui, na arte em geral - assim, entre uma cena e outra, temos um plano curto dedicado a uma escultura, uma construção, uma fotografia ou uma gravura. É perceptível, também, a preferência pela iluminação natural sempre que possível. A narrativa é linear, em um ritmo lento e constante. A atmosfera é de desalento, pois, à medida em que a exposição e a gravidez avançam, o protagonista perde o controle de ambas e torna-se mais e mais obcecado por sua doença. O elenco é formado por Brian Dennehy como Kracklite, numa interpretação aguçada para um personagem complexo, o que me deixou bem satisfeita; no papel de Louisa, esposa do protagonista, Chloe Webb - ai... aqui temos um problema... tenho profunda antipatia por essa atriz, assumidamente gratuita, e não consigo gostar de sua interpretação muito por conta desta antipatia; talvez ela até esteja bem, não sei, não consigo ser imparcial; no papel de Caspasian, Lambert Wilson - ele mostrou-se empolado, quase canastrão, mas acredito que era a exata intenção do diretor para o personagem, então entendo que ele esteja bem no papel. Como já disse, gosto muito da obra de Greenway e este é um filme que me agrada bastante. Sei que a obra não agrada todo mundo - sei de amigos que detestam o diretor -, mas acho que vale conhecer seus filmes e admirar a minuciosa construção de cada plano deles. Eu curto e recomendo para quem busca experiências diferentes dentro da arte cinematográfica.

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