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  • hikafigueiredo

"A Cor da Mentira", de Claude Chabrol, 1998

Filme do dia (36/2021) - "A Cor da Mentira", de Claude Chabrol, 1998 - Uma menina de dez anos de idade é encontrada estuprada e morta em meio à floresta. A suspeita recaí sobre seu professor de desenho, René (Jacques Gamblin), último a vê-la com vida.





Neste drama com pinceladas de thriller, Chabrol constrói, peça a peça, um quebra-cabeça que envolve o espectador, fazendo-o desconfiar de todos os personagens que, aos poucos, lhes são apresentados. A narrativa desenvolve-se em duas linhas que correm paralelas - uma voltada para as investigações acerca do assassinato da garota, e outra, num ambiente mais íntimo, acerca da relação de René com sua esposa Vivianne. Ambas as linhas tratam dos mesmos temas: a suspeita, a mentira e a culpa, assuntos que se entrelaçam e enganam os personagens e o espectador: uma mentira dita é comprovação de culpa? Ainda que a questão da morte da menina instigue o espectador, é na relação do casal que o filme se aprofunda e ganha suas cores mais interessantes e marcantes, ao entrar em cena o personagem Desmot, um famoso jornalista, arrogante e sedutor, que passa a assediar Vivianne, despertando um ciúme contido em René. O ritmo da narrativa é moderado, mais adequado ao drama que ao thriller. A atmosfera pende para a angústia, face aos sentimentos do protagonista René - além de ser apontado como o principal suspeito da morte da menina, sendo, assim, marginalizado pelos habitantes da pequena cidade onde vivem, ele pressente as investidas de Desmot em direção a Vivianne, o que mina sua frágil auto-estima e o deixa inseguro. Destaques para a cena no bar, onde muitos personagens se encontram, despertando a suspeita do espectador; para a cena em que Vivianne se defronta com o quadro pintado por René; e para a tensíssima cena do jantar, em que o público fica esperando pelo pior a cada segundo que passa. O elenco, ótimo, traz a maravilhosa Sandrine Bonnaire, que compõe uma Vivianne complexa, com espessura, equilibrando-se entre seu genuíno amor pelo marido e a culpa; Antoine de Caunes interpreta Desmot e o faz suficientemente bem para que o espectador desenvolva profunda aversão pelo personagem; mas é Jacques Gamblin quem se sobressai com seu René atormentado, inseguro e cheio de culpas das mais diversas origens. Eu, que conheço muito pouco do diretor, fiquei encantada com o filme, bastante envolvente. Quero mais! Recomendo! PS - O filme também é conhecido pelo título "No Coração da Mentira", título que, na minha opinião, é bem mais adequado.

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