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“Casamento Silencioso”, de Horatiu Malaele, 2008

  • hikafigueiredo
  • há 16 minutos
  • 3 min de leitura

Filme do dia (139/2025) – “Casamento Silencioso”, de Horatiu Malaele, 2008 – Romênia, década de 2000. Uma equipe de filmagem de um programa sensacionalista sobre eventos paranormais chega a uma minúscula e decrépita vila no interior do país. Habitado somente por mulheres viúvas e idosas, o vilarejo carrega uma história incomum, a qual começa a ser narrada por um antigo morador, o único homem no lugar nos últimos 50 anos.


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A sinopse acima pode ser considerada um pequeno prólogo da verdadeira narrativa, a qual se passa anos antes. O ano era 1953. A Romênia vivia sob um sistema socialista e sob a ocupação militar e o controle econômico da União Soviética, a qual impunha rígidas regras ao governo local e à população. No interior do país, os habitantes de um pequeno vilarejo permaneciam levando o mesmo estilo de vida de seus antepassados. Ali, em meio às pequenas propriedades rurais, um casal se apaixona e estabelece encontros furtivos e “calientes”. O pai da jovem, indignado com a falta de pudor do casal, resolve colocar um basta e exige um posicionamento do rapaz enamorado, que, sem titubear, conclama um pedido de casamento à moça. Decide-se uma data para breve, evitando-se adentrar na Páscoa. Ocorre que, no dia escolhido e prestes a se dar início à festa de casamento, aporta à vila um coronel soviético que adverte: Stálin morrera no dia anterior e o governo soviético estabelecera sete dias de luto oficial, período em que qualquer manifestação pública estava terminantemente proibida. Impedidos de continuar o casamento, os moradores locais buscam uma alternativa. A narrativa, formada por diversas cenas curtas e independentes que se sucedem, traz um humor físico e leve e que facilmente envolve o espectador. A história sugere que a vida na vila é agradável e os relacionamentos entre os moradores são amistosos e empáticos. Mas aqui e ali, a narrativa dá mostras que a felicidade local existe sob a sombra do poder soviético, o qual não pode ser confrontado. E aqui está o cerne da obra – a existência da Romênia e de seu povo sob o jugo da antiga URSS. A narrativa existe para expor, com um tom de denúncia, o que significou viver sob a ditadura stalinista e, após ela, sob os demais governos autoritários até a queda do ditador romeno Ceauscescu, em 1989. Assim, é evidente que a comicidade toda da história está ali justamente para fazer o contraponto a ações terríveis que, em algum momento, irão eclodir – acredite, isso não é spoiler, pois desde o início da narrativa, inclusive pela existência do tal prólogo, intuímos que, mais tempo ou menos tempo, algo de ruim irá acontecer, motivo pelo qual não posso dizer que me surpreendi com o desfecho dramático. A narrativa, ainda, aposta em ecos de realismo fantástico em algumas passagens, trazendo uma atmosfera mística e instigante. Há, também, certa teatralidade nas cenas, principalmente naquelas em que os personagens se encontram em grande grupo e o plano se apresenta bem aberto. Destaque para a cena da sessão de cinema, comicamente chapliniana e em fotografia P&B; para a cena da aparição da moça morta; e, claro, toda a sequência do casamento silencioso. Destaque também para a atriz Meda Andreea Victor, que faz a noiva Mara – ela fala pouquíssimo, mas seu olhar expressivo e sua expressão corporal são ótimos. No elenco, ainda, Alexandru Potocean como o noivo Iancu, Alexandru Bindea como o “prefeito” Gogonea e Valentin Teodosiu como o pai da noiva. Eu confesso que gostei mais do filme na segunda visita, achei que ele é mais “espesso” do que eu me lembrava e vale a visita. Pesquisei na internet e parece que ele está disponível em streaming pelo Looke.

 
 
 

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