"A Favorita", de Yorgos Lanthimos, 2018
- hikafigueiredo
- 21 de ago. de 2019
- 2 min de leitura
Filme do dia (30/2019) "A Favorita", de Yorgos Lanthimos, 2018 - Inglaterra, século XVIII. Na corte da Rainha Anne (Olivia Colman), Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz), domina a rainha e decide os rumos do país. A chegada de sua prima Abigail (Emma Stone), uma antiga dama, agora na mais absoluta ruína, pode destruir o prestígio e o poder de Sarah junto à rainha, dando início a uma sangrenta disputa entre as duas mulheres pela atenção da monarca.

Sou assumida fã do trabalho de Lanthimos. Sua capacidade de escancarar as podridões humanas e causar incômodo no espectador é inacreditável, sempre com obras viscerais, desconfortáveis e chocantemente reais, ainda que se passem em universos fantasiosos e distópicos. Ao saber que o diretor havia feito um filme com "élan" cômico, temi pelo resultado, mas, para a minha grata surpresa, o filme não perdeu nada em crítica, contundência e densidade. Obviamente, o filme não se trata de uma comédia rasgada - o espectador até ri, mas é um riso tenso, muito mais de nervoso do que graça, e, mesmo assim, em momentos pontuais. Há que se alertar que o filme continua sendo extremamente crítico - como de costume, o diretor expõe a miséria humana na forma da sua mais podre natureza, que envolve hipocrisia, interesse, egoísmo, vingança, violência, crueldade, deslealdade, traição, tudo concomitantemente. Lanthimos expõe, ainda, como o ser humano pode ser, num outro extremo de sua miséria, frágil, influenciável, fraco, vulnerável, medroso, sofrido e, acima de tudo, solitário. Não há espaço para glória ou sentimentos altruístas ou "elevados" - tudo, na realidade, giraria em torno dos mais baixos impulsos ou das piores fraquezas. Sentiu o peso? Ainda assim, apesar da carga crítica, o filme consegue ter certa "leveza" (por mais que isso pareça contraditório) inexistente nas demais obras do diretor, muito mais angustiantes do que essa. Tecnicamente, o filme é impecável - da direção de arte de época, espetacular, à fotografia caprichada, não há nada fora de lugar. Adorei o uso frequente de lentes grande angulares que distorcem a imagem, dando certa sensação de vertigem. Adorei o contraste causado pela bela direção de arte, com figurinos e cenários pomposos e sofisticados, frente à doentia corte, que mais se comporta como animais do que como seres racionais. Como em outros filmes, Lanthimos abusa da trilha sonora "esquisita", com sons de violinos que rasgam o ar, atrevidos, violentos. Outro ponto altíssimo do filme são as interpretações - Rachel Weisz e Emma Stone estão fantásticas como as duas oponentes, pérfidas, manipuladoras, duas cascavéis. Mas quem fez meu queixo cair foi Olívia Colman - a mulher dá um show!!!! A rainha Anne alterna estados de absoluta fragilidade com ataques de fúria e Olivia Colman dá corpo à crescente loucura da personagem. A atriz é um monstro!!!! (Um aparte: eu achei que seria impossível torcer por outra atriz que não Glenn Close no Oscar 2019, por seu papel em "A Esposa", até por justiça histórica por não ter sido premiada por "Ligações Perigosas", em 1989, no entanto, queria muito, muito mesmo, que Olivia Colman levasse a estatueta). O filme é SENSACIONAL!!!!! Amei, amei, amei!!!! Vejam, ele é perfeito!
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