- hikafigueiredo
"A Felicidade das Pequenas Coisas", de Pawo Choyning Dorji, 2019
Filme do dia (35/2022) - "A Felicidade das Pequenas Coisas", de Pawo Choyning Dorji, 2019 - No Butão, o jovem Ugyen Dorji (Sherab Dorji) é um professor sob contrato do governo que sonha em emigrar para a Austrália. Em seu último ano de contrato, Ugyen é enviado para Lunana, um vilarejo perdido nas montanhas, onde existe a "escola mais remota do mundo". Contrariado, mas sem opção, ele se dirige para a vila de Lunana sem saber que a experiência lhe trará grandes lições.

Antes de assistir a este filme, uma amiga me alertou que a obra era bastante previsível. Tenho de concordar com ela - previsibilidade é uma das principais características do filme. No entanto, os demais atributos da obra, para mim, compensaram qualquer sensação de obviedade que, porventura, ela traga consigo. Este é um filme terno, aconchegante e acolhedor, que discorre sobre "pequenas grandes" ações que transformam as pessoas e o mundo. O personagem Ugyen não gosta de ser professor, mas é obrigado a terminar seu contrato com o governo. No intuito de expandir um pouco a visão evidentemente limitada do jovem, sua preceptora o envia para os confins do país, numa minúscula aldeia de 56 habitantes, a quase 5.000m de altitude e a 6 dias de caminhada da cidade mais próxima. No local, Ugyen vai descobrir uma nova realidade, vai tomar contato com sua ignorância em diversos terrenos e vai "aprender a ser gente" com pessoas de extrema simplicidade. É evidente que o roteiro não traz qualquer complexidade, mas o que falta em sofisticação, sobra em doçura e sensibilidade. A narrativa é totalmente linear, em um ritmo bastante lento - há pouquíssima ação no filme, eu diria que é uma obra intrinsicamente contemplativa, que transmite uma surpreendente paz interior. É evidente que o filme explora a beleza natural daquele ambiente tão particular, remoto e inóspito - assim, espere por infinitos planos muito abertos retratando a enormidade daquela natureza, as montanhas geladas ao longe, o planalto desabitado coberto por vegetação rasteira e forrageira. A fotografia mostra-se, ainda, bastante saturada, exaltando as cores da paisagem - o céu é muito azul, as montanhas nevadas muito brancas, e assim por diante. E prepare-se para se encantar, não apenas com a natureza intocada, mas com a índole pacífica e profundamente sábia daquele povo - mesmo as menores crianças parecem trazer muito mais sabedoria e noção de realidade do que qualquer morador de cidade grande, ensimesmados e incapazes de perceber a essência da vida e do mundo. O filme traz um recorte musical apoiado na música típica do país e nas canções cantadas pelos pastores de iaques, uma sonoridade bastante estranha aos ouvidos ocidentais, mas, também, bastante delicada. O elenco traz Sherab Dorji no papel principal, o professor Ugyen, e o ator consegue transmitir, muito bem as nuances e mudanças no personagem; Kelden Lhamo Gurung interpreta a calma e introspectiva Saldon - não sei se é ela mesma que canta no filme, mas a voz da personagem é cristalina; a pequena Pem Zam é interpretada por ... Pem Zam, um amorzinho de criança. E, gente, que povo exótico e lindo, nossa, apaixonei!!!! A obra está concorrendo ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Olha... sei que não é filme para geral, muito pelo ritmo muito lento e também pela simplicidade do roteiro, mas, admito que fiquei encantada com a totalidade da obra. Eu gostei bastante, fiquei tocada e quero fazer trekking no Butão!!!!!!