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  • hikafigueiredo

"A Festa da Menina Morta", de Matheus Nachtergaele, 2008

Filme do dia (44/2017) - "A Festa da Menina Morta", de Matheus Nachtergaele, 2008 - Numa longínqua comunidade ribeirinha do Amazonas, Santinho (Daniel de Oliveira) é cultuado como santo milagreiro desde que recebeu de um cão as roupas rasgadas da "menina morta" no mesmo dia em que sua mãe se suicida. Venerado por todos da comunidade, o jovem mostra-se transtornado com as responsabilidades e o peso de seu "cargo", não deixando, no entanto, de cumprir os rituais que lhe são esperados.





Então... o filme terminou e eu fiquei com uma sensação de "a que veio?". Okay... retrata uma realidade que nos é completamente desconhecida, totalmente apoiada - eu diria até "fincada" - no misticismo, no ritualístico, na religiosidade extrema, no fanatismo, onde tudo na cidade é guiado pela figura "santa" de um rapaz perturbado, mas... e daí? O que se pretende afinal? É uma crítica ou apenas um apontamento? Isso o diretor não conseguiu esclarecer minimamente. A obra tem problemas - e não são poucos. Além da intenção nebulosa, o filme sofre com a qualidade técnica, tanto de som quanto de imagem: inúmeras são as passagens em que o diálogo é ininteligível - não bastasse o vocabulário e sotaque regionais, que dificultam o entendimento, o som direto é abafado, com momentos quase inaudíveis. A fotografia alterna cenas bem feitas, com boa iluminação, com outras excessivamente escuras, onde o espectador quase precisa adivinhar o que está acontecendo. Mas o filme tem virtudes também. A direção de arte é bem condizente com a ambientação e consegue reproduzir e transmitir muito daquele contexto de euforia religiosa, quase uma catarse coletiva - isso foi bem interessante e envolvente. Mas o forte mesmo do filme são as interpretações - Matheus Nachtergaele, o diretor, ator nada menos que brilhante, conseguiu extrair interpretações magníficas de todos nos atores. Daniel de Oliveira está excelente como Santinho - evidentemente transtornado pelo suicídio da mãe e pela relação incestuosa com o pai alcoólatra e violento, Santinho mostra-se agressivo, arrogante, mimado, histérico na intimidade, mas, diante do todo da população, consegue assumir uma imagem beata e condescendente, arcando com o peso dos anseios coletivos; Jackson Antunes, como o pai de Santinho, consegue transformar-se numa figura nojenta, sórdida; Juliano Cazarré (e pensar que eu não dava nada por esse moço... daí vi "Boi Neon" e descobri que ele é um baita ator!!!!!) como o irmão da menina morta, está realmente ótimo como o único que ainda guarda alguma crítica ao circo armado (mas que, apesar de tudo, é incapaz de voltar-se contra os costumes estabelecidos); o elenco ainda conta com Cássia Kiss (como o fantasma da mãe suicida), a sempre perfeita Dira Paes e o fantástico Paulo José (numa pontinha de nada). Grandes atuações!!! No final das contas, achei o filme fraco, muito aquém do talento de Matheus Nachtergaele. Tem filmes melhores por aí.

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