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hikafigueiredo

“A Filha do Meu Pai”, de Egil Pederson, 2024

Filme do dia (129/2024) – “A Filha do Meu Pai”, de Egil Pederson, 2024 – Elvira Sarah Olaussen) é uma adolescente norueguesa da etnia Sámi, criada pela mãe solo Beate (Ingá Elisá Pave Idivuoma). Ela acredita que foi concebida em uma clínica de fertilização na Dinamarca e sonha que seu pai é a estrela de cinema dinamarquesa Nikolaj Coster-Waldau, com quem tece diálogos imaginários. Certo dia, seu verdadeiro pai, Terje (Aslat Máhtte Gaup), surge na sua vida e Elvira precisa encarar sua verdadeira identidade.




 

Discorrendo sobre identidade, autoaceitação e amadurecimento, o filme retrata uma jovem de origem Sámi (o povo da Lapônia) que vive a ilusão de que é metade dinamarquesa (a imagem do povo nórdico que reina no imaginário coletivo, de pessoas brancas, loiras e de olhos claros), muito embora seu tipo físico não indique isso. Sua mãe, para justificar a ausência do pai, inventou que Elvira fora concebida em uma clínica de fertilização na Dinamarca, a justificar as ilusões da jovem. Um dia, seu verdadeiro pai aporta em Unjárga, a pequena vila onde Elvira e sua mãe vivem, e, decidido a estabelecer laços com a filha, contata a jovem e se apresenta. Subitamente, todos os devaneios relativos à identidade de Elvira caem por terra e ela tem de lidar com a verdade – ela é uma legítima Sámi. Embora entenda que o intuito do filme – que foi financiado por um Instituto Cultural Sámi – fosse celebrar a cultura da etnia Sámi, enchendo esse povo de orgulho de suas origens, a obra pouco ou nada sai do óbvio. Elvira é uma adolescente comum, que vive em conflito com a mãe e sua namorada e que apresenta uma autoestima rente ao chão. A história de ter sido concebida na Dinamarca faz com que ela se diferencie dos colegas, o que lhe rende algum prestígio. Quando seu pai ressurge do nada e Elvira descobre que não tem qualquer sangue dinamarquês em suas veias, seu único diferencial desaparece e ela se iguala a todos os colegas. A jovem revolta-se, o conflito com a mãe fica acirrado e ela se aproxima do pai, que tem uma imagem de “descolado”. A lógica indica que essa relação não vai dar certo e o filme abraça o óbvio. Okay, a jovem tem de aceitar suas origens e identidade, mas achei o caminho encontrado pelo filme muito pouco sensato e lógico – Elvira aceitará sua origem Sámi ao conhecer um pai ausente, inconsequente e egoísta desta mesma etnia? Sei lá, para mim não faz sentido, a conta não fecha e o que era óbvio continua como óbvio. O roteiro me pareceu preguiçoso, por demais ufanista quanto à cultura local e optou por soluções muito simples e primitivas, não aprofundando quaisquer das reflexões propostas (identidade, amadurecimento, aculturação, construção de autoestima, etc). A obra poderia, ainda, ter tido um olhar mais crítico quanto a personagem Margret, uma colega de Elvira que é influencer e que celebra suas origens Sámi, mas não, escolheu mais uma vez o caminho mais fácil e fez de Margret - uma jovem fútil e interesseira – quase uma heroína por celebrar sua identidade cultural – aaaaaah, me poupe! Por fim, o que o filme tinha de mais interessante, que eram os diálogos imaginários de Elvira com o suposto pai, o ator Nikolaj Coster-Waldau, é abandonado assim que a menina conhece seu pai verdadeiro, perdendo todo o teor cômico e criativo que existia ali. A narrativa é linear, em ritmo moderado e sem um clímax bem delimitado. Não se criou, ao longo da narrativa, qualquer atmosfera marcante – é um filme amorfo simplesmente. Mesmo a construção dos personagens é frágil – ninguém ali tem espessura, todo mundo é bem raso, até mesmo Elvira (o que dirá de Terje, o pai – puro estereótipo). O que o filme tem de melhor são as locações lindíssimas da Lapônia, um lugar bastante impressionante, e a trilha sonora que aproveita cânticos que, acredito, sejam típicos da cultura local. Também não merecem críticas negativas os intérpretes que trabalharam no filme – a jovem atriz Sarah Olaussen Eira fez o que estava ao seu alcance com a personagem Elvira e não fez feio não, assim como Ingá Elisa Pave Idivuoma, que interpreta a mãe. O mais fraco, para mim, foi Aslat Mahtte Gaup, que interpreta o pai, mas também não sei se ele tinha como trazer mais elementos àquele personagem tão mal construído. Enfim... filme fraco, fraquíssimo, que promete muito mais do que entrega. Não gostei e não vou perder meu tempo (e o de ninguém) recomendando. Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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