Filme do dia (103/2022) - "A Grande Beleza", de Paolo Sorrentino, 2013 - Jep Gambardella (Toni Servillo) é um escritor e jornalista que convive em meio à elite intelectual e socioeconômica numa agitada e mundana Roma. Ele vai, todas as noites, às mais luxuosas e requisitadas festas e aos mais disputados eventos, sendo figura carimbada da sociedade romana. Mas, aos 65 anos, algo incomoda o escritor e ele começa a questionar sua existência e o fato de nunca mais ter escrito nada depois de seu primeiro romance.
Após anos da primeira visita a essa obra, resolvi revê-la para escrever sobre ela e muito embora não tenha tido o mesmo impacto da primeira incursão, eu continuo considerando o filme uma obra prima do cinema. O filme discorre sobre a crise emocional e criativa do protagonista que, subitamente, se vê impingido a refletir sobre sua existência e a evidente futilidade que o envolve. Ainda que seja um profissional respeitado, Jep, repentinamente, dá-se conta de um profundo e doloroso vazio emocional e existencial, oportunidade em que o espectador percebe o personagem se "destacando" de seu meio e passando a observar tudo com um olhar mais crítico e distante daquela realidade. A obra traz um interessante e quase cruel retrato da alta sociedade romana, onde o hedonismo, o imediatismo, o consumismo e o culto às celebridades andam lado a lado com a total ausência de objetivos, a frivolidade, a amoralidade e o mais devastador vazio existencial. Jep, aos poucos, percebe, aqui e ali, em pequenas e banais situações, desprovidas de qualquer luxo e glamour, a existência de relações reais, profundas e humanas, e passa a ansiar por algo que signifique mais do que mero prazer superficial. A obra entra no rol de filmes sensoriais, aquelas obras que falam mais ao nosso emocional do que ao racional, ainda que seja facilmente compreendido racionalmente. O roteiro é muito bem encadeado, sem pontas soltas e privilegiando um olhar poético e sensível acerca de tudo que rodeia o protagonista. A narrativa é prioritariamente linear, ainda que composta por inúmeras cenas que nem sempre têm relação direta entre si e um ou outro flashback. O ritmo é moderado, mas gostoso, favorecendo a leitura poética da obra. Visualmente, o filme é um espetáculo. Alternando planos abertos, quase sempre aproveitando as maravilhosas locações de Roma, repletas de construções históricas, com planos um pouco mais fechados retratando aquela sociedade, suas festas e eventos rebuscados, vemos um contraste contundente entre as glórias passadas e o vazio atual. A câmera capricha MUITO nos enquadramentos criativos, inusuais e sofisticados, assim como nos constantes movimentos de travelling dos mais diversos tipos - a câmera praticamente não para, ela está em constante movimento, num frenesi que reproduz a agitada vida social de Jep e de seus poucos amigos e infinitos conhecidos. A trilha musical, variadíssima, vai de música sacra ao pop e ao tecno e diz muito sobre o estado emocional do protagonista. O elenco é conduzido pelo ótimo Toni Servillo, um ator bastante versátil e que consegue encher de humanidade o personagem que se divide entre a dor da solidão e um desapego quase niilista e que questiona toda a sua existência sexagenária. O elenco conta, ainda, com Carlo Verdone, Sabrina Ferilli, Isabella Ferrari, e mais uma galera - o elenco é enorme!!! O filme, maravilhoso, foi agraciado com o Oscar (2014), o Globo de Ouro (2014) e o BAFTA (2014), sempre na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Eu gosto muito da obra, pois ela me passa muitas e diversas sensações que vão de melancolia a um calorzinho na alma, sabe??? Recomendo muito!!!
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