Filme do dia (301/2021) - "A Lenda", de Ridley Scott, 1985 - O Senhor das Trevas (Tim Curry) pretende criar a noite eterna, destruindo toda a inocência de seu mundo. Para tanto, precisa matar duas criaturas mágicas. Mas o jovem Jack (Tom Cruise), a meiga Princesa Lily (Mia Sara) e os seres da floresta estão dispostos a tudo para impedi-lo.
Ai, ai. Possuindo enorme memória afetiva por esta obra, que assisti lá na adolescência, resolvi revê-la para tecer minhas considerações. Grande erro. Se nos meus inocentes 15 anos, o filme me pareceu doce e mágico, a esta altura da vida, foi um verdadeiro suplício chegar ao final da história. Que os fãs me desculpem - eu também já fui uma - mas a história é uma bomba. Misturando seres mitológicos de origens diversas num grande caldo amorfo, a narrativa é um apanhado de clichês sem nenhuma originalidade, que transita entre contos de fada e mitologias sem qualquer pudor. Temos o herói corajoso, a princesa virginal, os seres mágicos do bem que os ajudam e o grande mal na forma de uma figura vilanesca, sombria e fisicamente monstruosa - ah. Que original. É tanto lugar-comum na história que não sobra qualquer espaço para a criatividade e, muito menos, surpresas de qualquer espécie. Em suma, o roteiro é sofrível e decepcionante. A narrativa é linear, num ritmo bem marcado. A atmosfera é etérea, onírica, o que se torna uma das maiores virtudes do filme, junto com o visual caprichadíssimo e que envelheceu muito pouco - sim, é isso mesmo, ainda que com o roteiro medonho, a qualidade técnica do filme é altíssima e é fácil se deixar levar pelas belas e fluidas imagens. Fotografia, direção de arte, maquiagem e efeitos especiais , eu admito, são notáveis. Edição de som deixou um pouco a desejar - a princesa Lily "cantando" (só que não) ficou bem estranho e deslocado pela edição mambembe. No elenco, um jovem Tom Cruise mostrando que vinha com tudo para ser galã - eu não gosto do personagem, clichezaço, mas não diria que a interpretação do ator foi ruim; no papel de princesa Lily, uma Mia Sara linda mas insossa, talvez, também, pelo meu profundo desgostar pela clássica imagem da princesa inocente; o Senhor das Trevas é um capítulo à parte - fã ardorosa de Tim Curry, sempre o vejo como trunfo em uma produção, mesmo que seu personagem não seja dos melhores; gosto, também, de Annabelle Lanyon como a fada Oona - muito expressiva a atriz. Enfim, temos uma obra visualmente arrebatadora, mas com uma história que parece ter sido escrita por uma menininha de 10 anos. A revisita destruiu a memória afetiva e seria mentira dizer que gostei do filme. Como sei que a obra tem uma legião de fãs ardorosos, deixo para que estes vejam por sua conta e risco.
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