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hikafigueiredo

"A Lenda do Cavaleiro Verde", de David Lowery, 2021

Filme do dia (01/2022) - "A Lenda do Cavaleiro Verde", de David Lowery, 2021 - Na corte do Rei Arthur (Sean Harris), seu sobrinho Gawain (Dev Patel) almeja tornar-se um cavaleiro. A oportunidade surge quando um estranho e sombrio cavaleiro verde (Ralph Ineson) adentra à corte e propõe um desafio - algum dos cavaleiros deverá enfrentá-lo em uma batalha e, após um ano, este mesmo cavaleiro deverá procurá-lo na capela verde para que ele lhe devolva o mesmo golpe que porventura receba na ocasião. Gawain aceita o desafio e acerta o cavaleiro verde. Um ano depois, ele terá de se oferecer para receber o mesmo golpe de sua vítima para comprovar sua honra e, assim, ser ordenado cavaleiro da Távola Redonda.





Baseado em uma obra do século XIV, de autor anônimo e de tema conexo à lenda do Rei Arthur e seus cavaleiros da Távola Redonda, o filme narra a jornada do personagem Gawain, o sobrinho do Rei Arthur, que intenta tornar-se um cavaleiro, mas que, para tal, precisa comprovar sua coragem e honra. A obra discorre sobre a jornada externa e interna do jovem Gawain para ser merecedor do título que almeja. Se externamente o sobrinho do rei enfrentará inúmeros desafios na forma de salteadores, espíritos, figuras fantásticas ou apenas pessoas interessadas em desviá-lo de seu objetivo, internamente ele terá de lidar com seus medos mais profundos e encontrar coragem e determinação para seguir adiante em sua tarefa. Na linha "jornada do herói", Gawain terá encontros e desencontros com diversos personagens que terão reflexo em seu mundo interior, levando o protagonista a vivenciar, constantemente, a dicotomia medo versus coragem, assim como a dualidade entre virtude e tentação. Em um ritmo moderado - talvez arrastado para quem está muito acostumado ao frenesi dos filmes de ação mais comuns -, a narrativa atravessa momentos mais sombrios e outros mais oníricos e fantásticos, trazendo uma grande variação de atmosfera ao longo de sua duração. O desfecho me remeteu a outro filme acerca de uma figura legendária - não posso revelar qual pois seria um spoiler imperdoável -, motivo pelo qual "cantei a bola" antes do tempo e intui o final - ou talvez fosse o único aceitável mesmo. Por ser uma lenda galesa, a escolha do indiano Dev Patel para o papel de Gawain pode parecer equivocada, mas interpretei a escolha como uma alusão ao não-pertencimento do personagem à corte e aos cavaleiros - Gawain almeja fazer parte daquele grupo, mas, até então, ele é alheio àquela realidade; sendo filho da meia-irmã do rei, a personagem Morgana (tida como bruxa ou como ligada às tradições pagãs), o rapaz tem acesso à corte, mas não se equipara aos cavaleiros que admira, havendo um estranhamento pela sua presença ali, o que, para mim, ficaria expresso fisicamente pela fisionomia diferenciada do personagem em relação aos demais ali presentes. Visualmente, o filme é deslumbrante, trazendo ambientações etéreas, mágicas, e por vezes, assustadoras. Óbvio que o CGI mandou lembranças, mas é indiscutível que as paisagens - criadas por computador ou não - são incríveis e funcionam muito bem para criar diversas atmosferas. Da mesma forma, a fotografia é trabalhada para criar diferentes climas e não houve qualquer economia de recursos - a câmera é nervosa e muito movimentada, são inúmeros os travellings e as cenas em que a câmera "passeia" pelo ambiente, acompanhando os personagens, além da cenas em que a câmera subverte a posição das coisas (como um mergulhar na água onde o protagonista nada "para cima" e não "para baixo", dentre outros). A fotografia também alterna tons frios e quentes nas imagens - como o dourado do encontro da capela verde, ou os tons azulados da corte. A trilha sonora remete à música celta, casando muito bem com as imagens daquilo que nosso imaginário se acostumou como o mundo medieval. O elenco traz um Dev Patel empenhado, bastante bem como o protagonista que alterna diferentes estados de espírito (e, cá entre nós, total delicinha que ele sempre é). Nos papéis de Essel, amante de Gawain, e Lady, Alicia Vikander, ótima na diferenciação das duas personagens (de um lado a natural e apaixonada Essel, de outro a sedutora e insidiosa Lady); Joel Edgerton surge como Lord, Sean Harris como Rei Arthur, Ralph Ineson como o Cavaleiro Verde, Sarita Choudhury como Morgana e Erin Kellyman como Winifrida. Adorei ver Barry Keoghan no elenco, como um assaltante, ele é um ator incrível (o adoro desde que o vi em "O Sacrifício do Cervo Sagrado", 2017). A obra tem 130 minutos de duração e talvez desagrade alguns por seu ritmo um pouco contido, que eu, particularmente, achei necessário para dar o tom trágico da história do personagem (o que o diretor já havia feito em "A Ghost Story", 2017). Eu gostei bastante e recomendo, alertando que não é para todos os gostos.

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