Filme do dia (408/2020) - "A Morte do Senhor Lazarescu", de Cristi Puiu, 2005 - Na Romênia, um senhor idoso e solitário sente uma incômoda dor de cabeça, bem como certo mal estar estomacal. Ele procura o serviço de saúde e aguarda a chegada da ambulância na companhia de seu vizinho. Quando a ambulância chega, começa uma via-sacra atrás de um hospital que atenda o homem.

Agonia. Foi o que senti assistindo à obra. Extremamente lento, desenvolvendo-se praticamente em tempo real, com algumas elipses de tempo discretas, o filme trata da displicência das pessoas quanto aos seus semelhantes, do descaso pelos necessitados, da desumanização do atendimento hospitalar, das más condições da saúde romena, da arrogância de parte dos profissionais da medicina e do rápido esfacelamento da condição médica do protagonista, cuja saúde se esvai na mesma medida que sua percepção do que acontece ao seu redor. Se no começo do filme o Sr. Lazarescu está aparentemente bem, ao fim da obra ele está quase agonizante, enquanto a enfermeira da ambulância corre atrás de um hospital que possa se encarregar do doente. A atmosfera geral é angustiante, pesada e urgente. Em contraposição aos maus profissionais da saúde, há, no entanto, aqueles que tentam, de algum jeito, acelerar o atendimento do paciente em questão, ainda que por meio de favores e jeitinhos, até por perceberem que o caso é grave e merece atendimento preferencial. Sentimos que estamos numa corrida contra o tempo desde os primeiros minutos da obra. O roteiro flui vagaroso, bastante sensorial e os minutos que passam ociosos sem que Lazarescu seja atendido pesam como matacões. A fotografia do filme é escura, sem brilho, pouco contrastada , esmaecida, oferecendo um peso extra à história. Uma câmera na mão nervosa e constante traz, mais uma vez, a ideia de urgência - e o operador de câmera parecia que tinha Parkinson, achei que ia ficar com labirintite vendo o filme! As locações limitam-se à casa do idoso e aos corredores hospitalares, ambos igualmente deprimentes. A total ausência de trilha sonora ao longo do filme - só há música durante os créditos de entrada e do final - faz com que o silêncio seja incômodo, sepulcral. No elenco, destaque para Ioan Fiscuteanu como Senhor Lazarescu - o personagem vai, gradualmente, piorando e perdendo a noção de realidade e o ator faz isso muito bem, sem saltos perceptíveis. Outro destaque fica por conta da ótima atriz Luminita Gheorghiu (a mesma atriz que brilhou em "Instinto Materno", 2013) como a enfermeira da ambulância, uma dos profissionais que se penaliza da situação do paciente e tenta solucionar a questão). A obra é extremamente sensorial - sentimos o filme muito mais do que o racionalizamos - e, ao final, estamos num certo estado de desalento. A obra foi agraciada com o prêmio Un Certain Regard em Cannes. Bom, mas não é para qualquer público, há que se estar acostumado a um ritmo lento diferenciado, com risco de achar parado demais. PS - O filme foi comercializado como uma comédia de humor negro. Esqueça. Não há o mínimo sinal de comédia de qualquer tipo na obra.
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