Filme do dia (07/2020) - "A Mulher Infame", de Kenji Mizoguchi, 1954 - A Senhora Mabuchi (Kinuyo Tanaka) é a proprietária-administradora de uma tradicional casa de gueixas em Kyoto. Sua filha Yukiko (Yoshiko Kuga) acaba de chegar de Tokyo. A atividade comercial da mãe e o interesse de ambas pelo médico Matoba (Nakamura Jakuemon IV) resultarão em conflitos entre as duas mulheres.

O filme trata, antes de tudo, do conflito geracional entre mãe e filha. De um lado, a Senhora Mabuchi, uma mulher de meia idade fortemente ligada às tradições milenares de seu país, que toca um negócio que, embora tradicional no Japão, é fortemente relacionado e comparado, erroneamente, à prostituição. De outro, a jovem filha, ocidentalizada, moderna e que tem críticas ferozes à atividade da mãe. Em meio ao conflito, a disputa de ambas pelo mesmo homem. É bastante curioso ver o desenrolar da narrativa (sem spoilers), pois percebemos, no diretor, tanto um apego às tradições japonesas, quanto uma surpreendente leitura "feminina" das questões abordadas (os pontos de vistas são sempre femininos, os homens, na obra, são praticamente coadjuvantes). A obra não tem o mesmo apelo que outras do diretor, como "Contos da Lua Vaga" (1953), "O Intendente Sansho" (1954) ou "Oharu - A Vida de Uma Cortesã" (1952), mas, ainda assim, é um ótimo filme, que retrata o limite entre o antigo e o novo, entre as tradições e as inovações, causando, inclusive, certo estranhamento (é bem diferente ver o contraste da personagem Yukiko, moderna, com corte de cabelo atual e roupas ocidentalizadas e as gueixas da casa da Senhora Mabuchi, com suas vestimentas e maquiagens tradicionais). As atrizes cumprem bem seus papeis, mas destacaria a interpretação de Kinuyo Tanaka, atriz "queridinha" de Mizoguchi, presente em boa parte de seus filmes e extremamente versátil. Boa obra. Recomendo, alertando, no entanto, que não é a melhor do diretor.
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