Filme do dia (72/2023) – “A Mulher Infiel”, de Claude Chabrol, 1969 – Charles (Michel Bouquet) e Hélène (Stéphane Audran) têm o que parece ser o casamento perfeito. No entanto, Charles percebe atitudes suspeitas na esposa, desconfiando, então, de uma infidelidade.
Esse ótimo drama de Chabrol traz a história de um casal em um momento delicado – o marido percebe ínfimas mudanças no comportamento da esposa e passa a desconfiar de que ela esteja tendo um caso. Para despir-se de suas dúvidas, contrata um detetive particular e, após alguns dias, recebe o veredito. O que achei mais interessante na obra foi a mudança drástica de ponto de vista ao longo da narrativa – no início, acompanhamos a história sob o olhar atento do marido Charles; mais ou menos na metade da obra, há uma mudança e passamos a acompanhar a narrativa sob o ponto de vista dos dois envolvidos, o marido e a esposa; e, no terço final da obra, é a visão de Hélène sobre os fatos, sem jamais se afastar do tempo cronológico. Gostei que, na obra, não há nenhuma leitura moral dos acontecimentos – se houver um julgamento, será tão somente do espectador. Curiosamente, ainda que o filme discorra sobre infidelidade, o diretor retrata a lealdade que prevalece entre o casal – são nas cenas finais que percebemos que Hélène, acima de tudo, é verdadeiramente leal ao marido, nada tendo o poder de abalar essa condição. Outra característica do filme que merece destaque é a fantástica construção de suspense da narrativa, que nos remete imediatamente ao mestre Hitchcock. Como já mencionado, o tempo é linear, um ritmo moderado e crescente. A atmosfera é de tensão, tornando-se mais e mais sólida na medida em que a narrativa evolui. É engraçado que a obra é construída de tal maneira que eu me peguei torcendo pelo casal e, ainda mais, por Charles, um homem claramente apaixonado e devotado à esposa. A fotografia do filme é colorida e já apresenta o velho maneirismo setentista de se aproximar rapidamente do objeto (poucas vezes, eu admito, mas o suficiente para me incomodar, já que detesto este recurso). A trilha musical tem papel vital na construção da atmosfera, com uma música aguda, quase irritante, que me pareceu ser suportada por violinos (mas posso ser sido traída pelos meus ouvidos). O elenco é encabeçado por Michel Bouquet, excelente como o marido angustiado, que fará qualquer coisa para manter a adorada esposa ao seu lado; Stéphane Audran, musa de Chabrol, interpreta Hélène, igualmente bem no trabalho; Maurice Ronet interpreta Victor Pegala e Louise Rioton, a mãe de Charles. A obra me absorveu por completo e, mesmo o cansaço insistente, que naturalmente me levaria a ter sono, não foi suficiente para me desviar a atenção do filme. Gostei muito e aconselho.
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