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  • hikafigueiredo

"A Primeira Noite de Tranquilidade", de Valerio Zurlini, 1972

Filme do dia (188/2018) - "A Primeira Noite de Tranquilidade", de Valerio Zurlini, 1972 - Daniele (Alain Delon) é um angustiado professor de literatura que se muda com a esposa Mônica (Lea Massari) para Rimini, assumindo aulas na escola local. Em crise no casamento, Daniele rapidamente se interessa pela aluna Vanina (Sonia Petrova), a qual demonstra o mesmo desinteresse pela vida que assola o professor.





O filme, que integra algumas listas das melhores obras da década de 70, é uma ode ao pessimismo e à desilusão. A narrativa, como os personagens centrais, verte desencanto por todos os poros e aponta para um futuro sem qualquer esperança, gritando que não há escapatória para o desalento. O título, explicado a certa altura do filme, refere-se à morte, pois "a primeira noite de tranquilidade" seria aquela desprovida de sonhos, logo, distante do anseio e da frustração. É um filme mais amargo que pesado e, mesmo que não se goste da obra, é quase impossível passar indiferente por ela. A construção da narrativa é extremamente bem feita, mas o ritmo demora para engrenar e o início do filme é "arenoso" feito um deserto. Uma coisa me incomodou muito na obra - a forma como as mulheres são retratas e o tratamento dispensado a elas todas. Não interessa de qual personagem feminina se trate, todas são colocadas numa relação extremamente submissa aos desejos e anseios masculinos, lembrando que a obra é do início dos anos 70, supostamente uma época de emancipação feminina, que, definitivamente, não aparece no filme. Aliás, a parceria masculina na história, suplantando as mais repugnantes atitudes dos homens envolvidos, também me incomodou demais. Tecnicamente, ressalto as escolhas de posicionamento de câmera, pois alguns planos eram verdadeiras obras de arte e conseguiam transmitir aquela sensação de desilusão e angústia pretendida pelo diretor. A trilha sonora, que no começo do filme me agradou por conta de um trompete choroso, ao fim da obra me fez ter vontade de quebrar o instrumento na cabeça do intérprete, isso pelo excesso de investidas ao longo da narrativa (qualquer coisa que se queria pontuar, lá estava a porra do trompete "gritando"). As interpretações de Alain Delon e Sonia Petrova foram bastante adequadas, ambas pautadas num certo ar blasé, num desinteresse geral e irrestrito por tudo ou quase tudo (já que o personagem Daniele só tem olhos para Vanina, o que ultrapassa o interesse e instala-se no terreno da obsessão). Este é um filme curioso - eu consigo ver virtudes inegáveis na obra, mas não posso dizer, exatamente, que gostei dela, pois assisti-la acabou sendo uma experiência penosa. Em outras palavras, é um ótimo filme, mas que exige coragem e determinação para encará-lo. Boa sorte aos candidatos.

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