Filme do dia (213/2020) - "A Professora de Piano", de Michael Haneke, 2001 - Erika (Isabelle Huppert) é uma talentosa professora de piano já entrada em anos que vive com a mãe dominadora e abusiva. Sua vida limita-se às aulas no conservatório, saraus e concertos. No entanto, Erika tem seus desejos secretos e o interesse de um jovem rapaz fará com que suas fantasias e frustrações venham à tona.
Eu já havia visto essa obra há uns bons pares de anos. A revisita fez com que eu me desse conta de quão bom é o filme. A obra trata, basicamente, da sexualidade reprimida da personagem, a qual usa de diversos estratagemas para extravasar não apenas seus desejos, mas, também, suas perversões e seus sonhos masoquistas, bem como exercitar uma mínima liberdade fora da vigilância constante da mãe repressora. A obra é fenomenal, porque trata de assuntos polêmicos sem qualquer pudor ou verniz. É, ainda, um filme que conta com uma tensão crescente no ar, uma certa angústia advinda da personagem da professora que fisga o espectador com voracidade. Eu diria que a obra É a personagem, ela jamais sai de cena, sequer por um instante. E que personagem, meu deus!!! Erika é complexa, contraditória, consegue, a um mesmo tempo provocar piedade e raiva - ela é por vezes frágil, insegura, por outras arrogante, fria e cruel. Mas acima de tudo, Erika é perversa - com seus alunos, com sua mãe, com seu pretendente. A personagem chega a ser trágica e seus atos conduzem para um desfecho tão trágico quanto. Ah... não é um filme fácil - tanto que a indicação etária é 18 anos - pois há uma violência latente, que surge de todos os lados da personagem, mas, principalmente, dela própria. A narrativa é linear e o ritmo está mais para lento, mas a tensão constante dá uma sensação de "aceleramento". É uma obra bem sensorial, o espectador consegue sentir as emoções contraditórias e o sufocamento de Erika. A direção de arte cria um ambiente eternamente austero e opressor nas salas de aula do conservatório, nos palcos das apresentações, nos teatros. A imagem de austeridade de Erika contrapõe-se ao seu interior libidinoso e sedento por sexo e emoções. A trilha sonora resume-se às músicas tocadas em cena - no restante do tempo temos um silêncio opressor, incômodo. E chegamos nas interpretações. Isabelle Huppert está absolutamente fascinante como Érika. A personagem tem volume, tem camadas e camadas e Isabelle traduz isso magnificamente bem. O espectador amará Erika, tanto quanto a odiará, pois ela é capaz de ações desprezíveis. Aliás, a atriz adora essas personagens controversas, lembrando, por exemplo, de Michéle, de "Elle" (2016) ou "Emma", de "Madame Bovary" (1991). Mas não é só trabalho de Isabelle que está brilhante. Benoît Magimel também está sublime como o jovem Walter Klemmer, personagem que é manipulado pela professora, tanto quanto a manipula. Pelos seus trabalhos, Isabelle foi agraciada com o prêmio de Melhor Atriz em Cannes naquele ano e Magimel, de Melhor Ator no mesmo Festival. Para completar o elenco, Annie Girardot interpreta a horrível mãe opressora de Erika - e faz isso tão bem que a gente fica com ódio dela logo na primeira cena. O filme é FANTÁSTICO!!! Amo e recomendo muito!
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