Filme do dia (179/2021) - "A Rosa Tatuada", de Daniel Mann, 1955 - Após a súbita morte de seu marido, a dedicada Serafina (Anna Magnani) afunda-se em luto e fecha-se para a vida. Sem vontade de viver, ela martiriza sua jovem filha Rosa (Marisa Pavan), já farta do luto eterno da mãe e pronta para lançar-se ao mundo. Um encontro com o vívido caminhoneiro Alvaro (Burt Lancaster), no entanto, poderá ter um efeito inesperado na bela viúva.
Versão cinematográfica da peça homônima de Tennessee Williams, o filme é um drama com forte apelo romântico que discorre sobre relacionamentos idealizados, ilusões, decepções, depressão, luto, perda e recomeço. A viúva Serafina sobrevive do ilusório passado, crédula de que seu falecido marido era-lhe tão dedicado quanto ela a ele. Quando uma suspeita acerca da fidelidade do morto surge, o mundo de Serafina vem abaixo - falta-lhe o chão, ela se desespera e vê ruir todo seu castelo de sonhos. É nesse momento que a viúva conhece o vívido caminhoneiro Alvaro, o qual se encanta com o jeito espontâneo e a beleza selvagem de Serafina e passa a cortejá-la. A história é ingênua - ainda mais se compararmos com outras obras de Tennessee Williams como "Gata em Teto de Zinco Quente" e "Um Bonde Chamado Desejo" - e bastante previsível, mas não deixa de ser simpática e romântica. Por vezes - principalmente no começo -, o filme deixa evidente sua origem teatral e quase percebemos as "deixas" para entrada e saída de palco, melhorando durante e após a cena da igreja. A obra tem uma belíssima fotografia P&B que lhe rendeu o Oscar da categoria. Agora, o filme não seria o que é sem a interpretação excepcional de Anna Magnani. Sua Serafina é de uma intensidade ímpar, seja para amar profundamente, seja para sofrer profundamente, tudo na personagem é intenso no limite - exatamente o tipo de personagem que Anna Magnani interpretava de maneira vigorosa, como acho que ninguém mais conseguiria. Anna Magnani era capaz de interpretações tão profundas e viscerais que conseguiu superar os padrões estéticos da indústria cinematográfica e se estabelecer como a atriz que foi mesmo estando bastante fora daqueles padrões (eu, pessoalmente, acho Anna Magnani maravilhosa, de uma beleza exótica, sedutora e irresistível!!!). Pelo papel, a diva Magnani recebeu o Oscar, o Globo de Ouro e o BAFTA de melhor atriz - está bom ou quer mais? Burt Lancaster interpretou Alvaro, um personagem com bem menos apelo que Serafina e bastante diferente dos tipos sedutores de outros filmes; Marisa Pavan interpretou a filha Rosa, sendo agraciada com o Globo de Ouro de Atriz Coadjuvante. O filme vale, antes de tudo, pela presença do vulcão Magnani, mas também pelo texto ágil de Tennessee Williams. Eu gostei e recomendo.
Comments