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"Abril Despedaçado", Walter Salles, 2002

  • hikafigueiredo
  • 23 de set. de 2020
  • 2 min de leitura

Filme do dia (368/2020) - "Abril Despedaçado", Walter Salles, 2002 - Riacho das Almas, Nordeste, 1910. Uma rixa familiar faz de Inácio, irmão mais velho de Tonho (Rodrigo Santoro), mais uma vítima fatal. O pai de Tonho (José Dumont) exige que o rapaz cumpra a tradição de violência e vingue a morte do irmão, mesmo sabendo que isto trará o mesmo fim ao filho do meio. Pacu (Ravi Ramos Lacerda), o caçula, tenta convencer o irmão a descumprir a ordem do pai, ficando, nas mãos de Tonho, a decisão que poderá encurtar seu tempo de vida.





Poético e triste, o filme retrata a disputa de terras e as brigas familiares pela posse destas, tão comuns em rincões afastados do país. As famílias, já despojadas de quase tudo, acreditam que sua honra é seu último valor e perdê-la seria pior que a morte, preferindo colocar em risco a vida dos filhos à serem consideradas "desonradas". A obra, ainda, discorre sobre a juventude e as descobertas juvenis e a contraposição entre o respeito ao poder patriarcal e as tradições e a independência pessoal. Tonho é a própria imagem da dúvida, ele se encontra emparedado entre seu desejo de vida e o desejo de morte de seu pai. A figura paterna, por seu lado, surge como a mão de ferro, o detentor do poder familiar e aquele que decide quem se sacrifica ou não pela família. À mãe e aos filhos, sem qualquer voz, resta acatar as ordens do patriarca. A narrativa ocorre em dois tempos - primeiro, um longo flashback, onde Pacu relembra os acontecimentos recentes de sua família, e o segundo, o desfecho da história de vingança e dor protagonizada pelo seu pai e seu irmão. O ritmo é lento, mas não excessivamente, e a atmosfera é de melancolia e angústia. A fotografia é incrível e aproveita os espaços abertos do sertão e a luminosidade extrema do Nordeste, abusando dos planos bem abertos que dão a dimensão da desolação do local. Inúmeros são os planos criativos e sofisticados, como nas cenas do balanço, num plongée absoluto. Quanto às interpretações, o filme é cheio de gente "fera": Rodrigo Santoro está maravilhoso como Tonho, ele traz um quê de inocência no olhar, um misto de temor e curiosidade pela vida que são tocantes; José Dumont, um ator irretocável, também manda muitíssimo bem como o sertanejo duro, calejado e inflexível - a cena em que ele ri grosseiramente é quase assustadora; O ator mirim Ravi Ramos Lacerda é um escândalo, cara, ele traz uma naturalidade e tem um sorriso que desmonta qualquer um; no elenco, ainda, gente como Wagner Moura, Othon Bastos, Gero Camilo, Luiz Carlos Vasconcelos e Caio Junqueira em papéis menores, além de Flávia Marco Antônio no papel de Clara. O filme é esplêndido, muito sensível, muito poético, triste que só, ainda que com uma beleza intrínseca. O filme estava há anos na coleção e eu crente que já havia visto e não me lembrava da história, agora tenho certeza que jamais havia visto e fiquei apaixonada pela obra! Foi indicado ao Globo de Ouro e ao Prêmio BAFTA de melhor filme estrangeiro, assim como ao Leão de Ouro no Festival de Veneza - só por aí já dá para tirar quão bom o filme é!!! Recomendo muito!!!

 
 
 

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