top of page
hikafigueiredo

"Alice nas Cidades", de Wim Wenders, 1974

Filme do dia (20/2021) - "Alice nas Cidades", de Wim Wenders, 1974 - O jornalista alemão Philip Winter (Rüdiger Vogler), após semanas viajando pelos EUA, não consegue terminar uma reportagem. Sem alternativa, resolve voltar para sua terra natal. No aeroporto, conhece Lisa (Lisa Kreuzer) e sua filha Alice (Yella Rottländer), de nove anos. Após pedir para Philip ficar com Alice por algumas horas, Lisa desaparece, obrigando Philip a embarcar para a Europa com a menina e começar uma longa jornada em busca da avó da criança.





Eu não sou grande entendida no cinema de Wim Wenders. Que eu me lembre, só assisti a três filmes dele. Mas uma coisa, os três têm em comum - seus protagonistas sempre estão à procura de algo e, acima de tudo, em busca de si próprios, de forma que me parece ser esse um tema recorrente nas obras do diretor. Neste road movie que se inicia na América e termina na Europa, temos o protagonista Philip completamente perdido na sua missão de escrever uma reportagem sobre os EUA. Sem referências claras, sem reconhecer sua própria identidade, Philip decide retornar às suas origens, mais por necessidade financeira do que como uma busca por si mesmo. No caminho para a Alemanha, o inesperado - Philip "herda" a companhia da pequena Alice e precisa encontrar um destino para a garota. Assim, a busca que se iniciou na América atravessa o Atlântico e continua pela Europa, primeiro pela Holanda, onde ocorre o desembarque e, em seguida, pela Alemanha, onde Philip e Alice procuram pela avó da menina. E é através dessa busca por uma avó desconhecida que Philip começa a se situar, reencontrar sua identidade, reconectar-se com seu passado e sua história e voltar a criar laços, coisa até então perdida. A obra, portanto, discorre sobre identidade, reconhecimento, raízes e pertencimento, mas, também, sobre construção de afetos e afinidades, empatia com o outro e responsabilidades. Da mesma maneira como o personagem vaga pelo espaço e tempo, o espectador sente-se vagando pelo filme, numa experiência sensorial bem interessante. A narrativa traz certa sensação de liberdade, de fluidez, de ausência de amarras. É uma obra silenciosa, quase sem música incidental - as raras vezes em que há música ao longo da narrativa, esta está incorporada à cena, como no caso do órgão do estádio, a música do junkbox na lanchonete ou a apresentação de Chuck Berry. A fotografia P&B, muitíssimo granulada e pouco contrastada, quase "lavada", traz dezenas de travellings laterais que esmiuçam as ruas das muitas cidades por onde a dupla passa, como se buscasse absorver o ambiente e encontrar as referências perdidas (essas cenas me lembraram muito fragmentos das obras de Jim Jarmusch). O ritmo é relativamente lento, pausado e constante. As interpretações são competentes em mostrar o estranhamento inicial dos dois personagens e a paulatina aproximação deles até ocorrer o reconhecimento pleno um do outro - nesse sentido, a cena da máquina de fotografia é emblemática, quando eles demoram para "encaixar" seus sorrisos. A atriz mirim Yella Rottländer foi um achado - ela é ótima. A obra não é exatamente fofa, mas terminei de assisti-la com uma incrível sensação de bem estar. Eu curti. Recomendo.

3 visualizações0 comentário

Commentaires


bottom of page