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hikafigueiredo

"Alpes", de Yorgos Lanthimos, 2011

Atualizado: 23 de ago. de 2019

Filme do dia (107/2019) - "Alpes", de Yorgos Lanthimos, 2011 - Um grupo de quatro pessoas - uma enfermeira, um paramédico, uma ginasta e seu treinador - formam uma "sociedade" denominada Alpes. Seus integrantes oferecem-se como substitutos de pessoas recém falecidas para auxiliar seus familiares no período de luto e aliviar a perda.





As obras do diretor Yorgos Lanthimos têm sempre algumas coisas em comum - fazem uma crítica feroz à sociedade, criam uma realidade distópica, são incômodas e seus personagens fogem da naturalidade. Neste filme, temos todos estes quesitos. Como em quase todas as obras do diretor, há uma crítica à hipocrisia da sociedade e das relações humanas - aqui, as pessoas em si não têm qualquer importância, o que importa são os papeis por elas desempenhados. Deste modo, pouco importa quem assuma o papel da filha esportista ou do marido infiel, desde que alguém cumpra os rituais destes personagens perante a sociedade, ficando qualquer sentimento em segundo plano. Mais uma vez, aqui temos uma realidade distópica - a substituição dos recém falecidos por pessoas aleatórias que apenas mimetizam suas formas e trejeitos não causa aversão, não causa espanto, ao contrário, é aceita, quase desejada. Esse pouco caso ao ser humano, aos entes "queridos", causa desconforto no espectador, um certo sentimento de repulsa e negação - e acho que isso é o que mais me atrai no cinema de Lanthimos (adoro obras que me tiram da zona de conforto, que me incomodam e que despertam sentimentos estranhos e contraditórios !!!). Por fim, a despeito da excelência técnica dos filmes do diretor, há uma busca pelo estranhamento, seja pelos planos propositalmente esquisitos - como alguns enquadramentos que "cortam" as cabeças dos personagens, ou pelas câmeras fixas que se estendem além do normal -, seja pelas interpretações antinaturais, robóticas, forçadas. Aliás, comportamentos e expressões artificiais têm sido marca dos personagens de Lanthimos (talvez apenas um pouco amenizada em "A Favorita") - o que é absolutamente compreensível e adequado se considerarmos o teor das obras. No elenco, a excepcional Angeliki Papoulia (que trabalhou com o diretor também em "Dente Canino" e "O Lagosta") e Ariane Labed ("O Lagosta"). Ainda que aquém das demais obras do diretor, "Alpes" ainda é um filme bom, acima da média e intrigante, daqueles que desperta sentimentos beeeeem diferentes. Adorei!

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