Filme do dia (303/2020) - "Amar, Beber e Cantar", de Alain Resnais, 2014 - Quatro amigos participantes de uma peça de teatro amador, descobrem que um grande amigo em comum está severamente doente e tem, no máximo, seis meses de vida. Tentando distraí-lo, os amigos resolvem chamá-lo para participar da peça, o que tratá conflitos entre os casais envolvidos.
Ah, que filme gostoso e divertido!!! Podendo ser definido como uma comédia dramática, o filme conta a história de um grupo de amigos pontuada pela presença constante do amigo Georges que, embora cheio de vida, tem suas horas contadas devido a um câncer terminal. O filme seria comum, não fosse um detalhe - ainda que Georges esteja "presente" em todos momentos da obra através de sua interação com os demais personagens, ele jamais aparece em cena. Tudo o que sabemos de Georges é através dos diálogos dos demais personagens que, gradativamente, vão dando, ao espectador, uma forma para essa figura enigmática que é Georges. E o mais divertido é que, ao fim do filme, a gente já conhece tanto do personagem que consegue prever o que ele fará - isso sem tê-lo visto em cena uma única vez. A estrutura da obra lembra a de uma comédia de erros - os personagens vão triangulando diálogos que criam intrigas, disputas, conchavos, mas sempre mantendo a amizade entre todos os envolvidos. Os diálogos são excepcionais, tanto que nos permitem conhecer, a fundo, a personalidade de Georges, bem como a dos demais personagens (mas menos.... a gente conhece mesmo é a essência de Georges). Outro ponto interessante é que o filme se comporta como uma peça teatral - temos cenários fixos que se sucedem, temos as "deixas" para entradas e saídas de cena, exatamente como em uma peça. Admito que, no início, esse comportamento teatral me incomodou um pouco, mas lá pelo primeiro terço da obra eu já nem percebia mais esse formato por estar tão envolvida com a história. A narrativa é linear e o ritmo é mais rápido que a média dos filmes europeus. Como bom filme francês, temos uma infinidade de longos diálogos - tudo se constrói sobre os diálogos, tudo!!!! Logicamente, uma filme com essa natureza exige muito do elenco, que respondeu perfeitamente bem às necessidades da obra. As interpretações são, evidentemente, mais teatrais do que o normal, mas não chegam a ser por demais exageradas, a ponto de atrapalhar o filme. No elenco, Sabine Azéma como Kathryn, Caroline Silhol como Tamara, Sandrine Kiberlain como Monica, Hippolyte Girardot como Colin, Michel Vuillermoz como Jack e André Dussollier como Simeon, todos muito bem (mas destacaria o trabalho de Sandrine Kiberlain). Eu gostei demais do filme, principalmente por brincar tanto com o nosso imaginário por termos de "construir" Georges na nossa cabeça. Recomendo.
Comments