Filme do dia (05/2021) - "Amarcord", de Federico Fellini, 1973 - O cotidiano de uma pequena cidade italiana nos anos 30, segundo os olhos de seus habitantes.
Eu admiro demais o cinema de Fellini e sua incrível capacidade de contar histórias à partir de uma estrutura que mais parece uma colcha de retalhos, expediente usado em "A Doce Vida" (1960), "8 e 1/2" (1963) e "E La Nave Va" (1983), só para citar alguns. Este aqui, uma das minhas obras prediletas do diretor, segue a mesma linha e, através de fragmentos do cotidiano de uma cidade, faz um panorama da Itália nos anos 30. Fellini, aqui, relembra sua adolescência, com todas as descobertas atinentes à idade, discorrendo, ainda, sobre sociedade, política, religião, vida familiar e cultura naqueles idos, momento em que o país estava embriagado pelo fascismo. A narrativa traz passagens cômicas entremeadas de outras tantas dramáticas, num equilíbrio delicado. Acompanhando a narrativa, um narrador presencial eventual - pois aparece pontualmente - que quebra a quarta parede e conversa diretamente com o espectador. A narrativa vem acompanhada dos tipos estranhos, não convencionais, bizarros, que caracterizam as obras do diretor e que ganharam, merecidamente, o nome de fellinianos - personagens como a mulher da tabacaria, o sanfoneiro cego, a "Gradisca", o tio de Titta, a Lupina, dentre outros tantos tipos excêntricos. Impossível não reconhecer a trilha sonora do filme, composta por Nino Rota. Difícil escolher as cenas de destaque, já que são inúmeras as passagens, mas sempre lembro da cena do tio na árvore clamando por uma mulher e da cena da tabacaria, ambas são bastante marcantes. O elenco, enorme, traz os mais diversos personagens, mas merece destaque Bruno Zannin como o adolescente Titta Biondi, Magali Noël como a sexy Gradisca, Maria Antonietta Beluzzi como a mulher da tabacaria, Armando Brancia como o socialista e pai de Titta Aurelio Biondi e Pupella Maggio como mãe de Titta, Miranda Biondi. O filme é maravilhoso, tendo recebido o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro naquele ano. Vale cada minuto e é obra emblemática do diretor. Obrigatório.
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