Filme do dia (53/2022) - "Amigas de Colégio", de Lukas Moodysson, 1998 - Na pequena cidade sueca de Amal, a adolescente Agnes (Rebecka Liljeberg) encontra dificuldades em fazer amigos. Ignorada por todos na escola, ela se apaixona pela popular Elin (Alexandra Dahlström), que nem sabe que ela existe. Quando a mãe de Agnes a obriga a fazer uma festa de aniversário, ela terá a chance de confrontar sua paixão platônica.
O filme de estreia do diretor Lukas Moodyson enfoca duas crises diferentes e autônomas em um só tempo: a difícil fase da adolescência, onde os indivíduos estão se descobrindo, firmando sua individualidade em relação à família e buscando sua identidade através do grupo social ao qual se agregam; e a descoberta da orientação sexual, que se torna tão mais complexa e traumatizante quanto mais se afasta da convenção heteronormativa. Nossa protagonista Agnes se depara com as duas questões, lidando, com dificuldade, com o fato de ser considerada "estranha" na escola e, por tal motivo, não ter amigos e rede de apoio. Estar apaixonada por outra garota - no caso, a menina popular do colégio e conhecida por sua longa lista de ex-peguetes -, apenas piora o sentimento de inadequação da personagem. A obra vai enveredar pelo longo e complicado caminho para a "saída do armário" que, se já é intrincado em grandes centros urbanos, mais modernos e complacentes com as diferenças, vai se mostrar ainda mais ingrato pelo fato de se dar em uma pequena e intolerante cidadezinha interiorana. O filme mostra, ainda, que adolescentes podem ser cruéis em qualquer lugar do mundo, lidando, com dificuldade, com qualquer coisa que saia do padrão no qual se espelham, fazendo do odioso bullying um "esporte" mundial. Uma coisa que é curiosa e que me chamou a atenção é como a hipócrita sociedade local lida com seus jovens - não causa qualquer alvoroço ou incômodo os adolescentes se embebedando até cair ou trocando de parceiro como quem troca de roupa de baixo, mas revelar-se homossexual é motivo para chacota e provocação (logicamente, nada que se compare ao risco de vida que ocorre em terras tupiniquins, mas, ainda assim, um sério obstáculo para a auto aceitação). O filme trata os assuntos com delicadeza, mas sem romantizar a questão - assumir-se homossexual nunca é fácil e livre de percalços. A narrativa é linear, em ritmo marcado. A atmosfera é de sufocamento e certa urgência - Agnes não aguenta mais a pressão, interna e externa, que vive, considerando até uma saída extrema através do suicídio. O filme traz uma estética crua, que se aproxima um pouco do Dogma 95, através de uma câmera nervosa, de uma fotografia pouco trabalhada e da quase total ausência de trilha sonora - o silêncio chega a ser perturbador. Algo que me incomodou foram as aproximações rápidas - a câmera passando de um plano aberto para um bem próximo -, algo muito utilizado na década de 70 e que eu sempre detestei. Por outro lado, fiquei bastante satisfeita com o elenco, em especial com as atrizes principais, Rebecka Liljeberg como Agnes e Alexandra Dahlström como Elin, ambas ótimas em seus papeis. O elenco também traz Erica Carlson como Jessica, Mathias Rust como Johan, Stefan Hörberg como Markus e Lisa Skargestam como a odiosa Camilla. A obra é uma boa pedida dentro da temática LGBTQIA+, com foco na homossexualidade feminina. Gostei bastante e recomendo.
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