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  • hikafigueiredo

"Andrei Rublev", de Andrei Tarkovski, 1966

Atualizado: 22 de mar. de 2020

Filme do dia (111/2020) - "Andrei Rublev", de Andrei Tarkovski, 1966 - Rússia, 1400. Três monges artistas, dentre os quais Andrei Rublev (Anatoly Solonitsyn), saem de um mosteiro em busca de trabalho como pintores de ícones religiosos.Em pouco tempo, o trabalho de Rublev será reconhecido e ele será convidado por um artista renomado - Theophanes, o grego (Nikolai Sergeyev) - para ser seu ajudante, despertando mágoa em Danill (Nikolai Grinko) e inveja em Kirill (Ivan Lapikov), seus companheiros de hábito.





A obra retrata a biografia - suposta e romantizada - de Andrei Rublev , o mais renomado artista de ícones e afrescos na Rússia na Idade Média. Na realidade, sabe-se muito pouco acerca da vida do artista, de modo que o filme é quase um devaneio cinematográfico de Tarkovsky. No entanto, a obra retrata, com bastante fidedignidade, um pouco da história e realidade daquele país no período de 1400 a 1424. Assim, temos, expresso no filme, o poderio e a censura imposta pela igreja ortodoxa, as lutas internas pelo poder, a invasão dos tártaros e o cotidiano do povo daquela região naquela época. Há uma especial preocupação em mostrar a realidade dos artistas, em como eles conseguiam sobreviver de sua arte, fossem novatos ou profissionais respeitados. Ao longo da obra, os personagens discutem e filosofam sobre inúmeros temas, mas, mais especificamente, sobre arte e religião - temos bastaaaaante filosofia , é um filme bastante "falado". O filme é menos metafórico e não tem aquela aura onírica que marcam as obras posteriores do diretor - então, "Andrei Rublev" está muito mais para "A Infância de Ivan" (1962) do que para "Solaris" (1972) ou "O Espelho" (1975). O tempo do filme é cronológico e linear e o ritmo está mais para lento, ainda que muito, muitíssimo menos lento que outras obras do diretor. A obra é de uma beleza estética rara - todo e qualquer quadro do filme parece uma pintura, é lindíssimo. Também é impressionante a direção de arte da obra - tudo é muito "medieval" ali, inclusive as pessoas, que parecem terem vindo, todas, do século XV. As imagens dos personagem Theophanes e Durochka (a moça muda) foram as que mais me impressionaram, pois nenhum deles parecia um ser do nosso tempo, eles eram carregados de Idade Média!!! rs A fotografia P&B era contrastada, muito bem trabalhada, com várias passagens de "travelling" e posicionamentos de câmera bastante sofisticados e diferentes (como o contra-plongée absoluto na cena do sino - muito lindo). Quanto às interpretações, Anatoly Solonitsyn está bem como Andrei Rublev, mas nada que tenha me impressionado; Nikolai Sergeyev me impressionou mais pela severidade de seu olhar e de sua expressão facial; Irma Rausch, que interpreta Durochka, também mostrou-se extremamente expressiva, com um olhar que mistura inocência e loucura; também gostei do trabalho de Nikolay Burlyaev, que interpreta o personagem Boriska (o menino do sino), que vai da arrogância à absoluta fragilidade com bastante propriedade. Destaque para a cena do culto pagão, para a chegada do tártaros na cidade de Vladimir e, principalmente, para a cena do sino, em particular os segundos que antecedem seu funcionamento (será que ele finalmente soará? ou falhará miseravelmente? Que apreensão...!!!). O filme é bom, belo e... longo... bastante longo, com três horas de duração. Como ele é muito, muito falado, com falas complexas e filosóficas, ele pode ser um pouco cansativo se você não estiver inspirado (assumo que fiquei com sono em algumas passagens). Mas sempre é um Tarkovski, diretor de respeito, por isso recomendo (mas esteja no clima certo para assisti-lo!).

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