Filme do dia (49/2023) – “As Bruxas de Eastwick”, de George Miller, 1987 – Na pequena cidade de Eastwick, três amigas – Alexandra (Cher), Jane (Susan Sarandon) e Soukie (Michelle Pfeiffer) – vivem uma existência solitária e tediosa. Certa noite, em um encontro etílico, as três imaginam a chegada de um interessante forasteiro, resposta para todos os seus sonhos românticos. E é nesse momento que chega à cidade Daryl Van Horn (Jack Nicholson), um excêntrico milionário, que se instala na mais importante construção do local.

Baseado no livro homônimo de John Updike, o filme concilia comédia e fantasia, apesar de trazer uma temática muito mais condizente com o gênero terror. A obra, do tipo delicinha, toca em questões surpreendentemente atuais. Numa época em que ninguém falava de sororidade ou camaradagem entre mulheres, o filme retrata três amigas solitárias que se apoiam e que desenvolvem uma sólida amizade que suplanta qualquer problema ou diferença. Alex, Jane e Soukie são a representação do “sagrado feminino”, trazendo, cada qual, características intrinsicamente relacionadas à figura feminina: a sensibilidade da arte da violoncelista Jane, a criatividade da artesã Alex e o poder de criação e acolhimento representado pela fertilidade de Soukie. Juntas, as três mulheres percebem que possuem uma força poderosa, capaz de coisas impressionantes – e, claro, mulheres empoderadas, fortes e satisfeitas consigo mesmas sempre foram taxadas de bruxas, por que não fazer delas exatamente isso? Justamente por todas essas características, esse é um filme bastante “feminino”, que certamente agradará mais mulheres do que homens. Também achei interessante o tipo de envolvimento que se desenvolve entre as três amigas e Daryl, numa época que sequer havia a palavra trisal. A narrativa é linear, em ritmo intenso. A atmosfera é extremamente leve, apesar de tratar de coisas sobrenaturais, teoricamente assustadoras. Tecnicamente, gosto muito da fotografia do filme, que abusa de enquadramentos criativos, traz muitos plongées e contra-plongées, bem como várias cenas repletas de movimentos de câmera variados. Também gosto do desenho de produção, em especial da caracterização das personagens e sua repentina modificação após o contato com Daryl (com destaque para a mudança da personagem Jane, a mais evidente). Nem precisa dizer que a trilha musical é perfeita, tratando-se de obra de John Williams. Mas, a cereja do bolo, foi a escolha do elenco – Cher, Susan Sarandon e Michelle Pfeiffer estão (ou são?) fenomenais e emprestam uma força surreal às suas personagens. E, no papel de Daryl, temos ninguém menos que Jack Nicholson, que enche de ironia e sedução seu personagem. No elenco de apoio, uma maravilhosa Veronica Cartwright como Felicia e Richard Jenkins como Clyde. Eu super curto esse filme e acho curioso ele ter sido tão esquecido tendo tantas virtudes. Adooooro e recomendo.
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