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“O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, 2025

  • hikafigueiredo
  • há 13 minutos
  • 3 min de leitura

Filme do dia (64/2025) – “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, 2025 – Em um futuro distópico, os idosos com mais de 75 anos – supostamente improdutivos – são levados a colônias habitacionais para que não atrapalhem a produtividade dos filhos. Tereza (Denise Weinberg), de 77 anos, ao ser obrigada a ir para a colônia, rebela-se, foge, e, contra tudo e todos, sai em busca de seus sonhos.


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Um raro filme que abraça a maturidade sem cair para o etarismo e sem tentar “maquiar” a estética dos personagens idosos – esse é o filme “O Último Azul”. A história acompanha o cotidiano de Tereza, uma idosa de 77 anos que é autônoma, mora sozinha e ainda trabalha em um abatedouro de jacarés em plena Amazônia. Ela é surpreendida por uma decisão governamental que baixa dos 80 para os 75 anos a idade para que os idosos sejam levados para colônias habitacionais sob o argumento de aliviarem as preocupações dos filhos e dos idosos, mas que revelam apenas uma cruel e desumana lógica capitalista na qual a produtividade das pessoas não pode ser afetada por cuidados aos familiares idosos. Com a nova decisão, Tereza passa a ser tutelada primeiro por sua filha e, depois, pelo Estado e é “convidada”, compulsoriamente, a se mudar para as tais colônias. Privada de seu direito de ir e vir e arrancada de sua residência, Tereza, inconformada, revolta-se e foge, dando início a uma linda viagem de autodescoberta e amadurecimento. A obra, é antes de tudo, uma ode à liberdade e autonomia dos indivíduos, um road movie onde os caminhos não são estradas, mas os meandros dos rios amazônicos e onde não existem limites para os sonhos. Tereza, a despeito de sua idade avançada, tem sonhos, desejos e, acima de tudo, condições de ir atrás daquilo que aspira, mostrando-se aberta a novas vivências e ensinamentos. O filme é lindo na forma como demonstra que a maturidade não é o fim e que há muito a viver, conhecer e aprender mesmo após os 70, 80, ou seja lá quantos anos se tenha. E que não há motivos para esconder ou se envergonhar da sua aparência – as rugas e os cabelos brancos da personagem jamais são escondidos e Tereza só tem motivos para se orgulhar de sua vida e aparência. Eu, coroa que sou, senti o coração quentinho com a defesa de Mascaro à maturidade, indo na contramão da maior parte das produções culturais, que, via de regra, enaltecem a juventude e rejeitam a vida depois dos 40, quiçá muito além disso. Só tenho uma reclamação em relação à obra – sem dar spoilers, acho que a questão da sexualidade da personagem ficou muito implícita; acho que o diretor poderia ousar mais nessa questão e mostrar uma cena de sexo da personagem, ao contrário de apenas deixar subentendido. Formalmente, o filme não sai em busca de imagens grandiosas e filtros que exagerem a beleza local – o que não quer dizer que não existam cenas e paisagens muito belas, mas tudo é muito autêntico. Assim como as paisagens, as pessoas não são idealizadas – tudo é muito real, até o Rodrigo Santoro, que faz uma ponta, é despido de sua imagem de galã e ganha uma aparência simples e verdadeira, alguém que realmente existiria em um barco no meio do rio em meio ao “nada”. Quanto ao elenco, temos uma excepcional Denise Weinberg, que enche a protagonista de humanidade, energia e garra; da mesma forma, Miriam Socarras interpreta, com sensibilidade, sua personagem Roberta, com quem Tereza faz uma bela parceria. Rodrigo Santoro interpreta Cadu, o primeiro a instigar Tereza ao autoconhecimento; e Adanilo faz o personagem Ludemir. A obra, aclamada pela crítica, foi agraciada com o Urso de Prata no Festival de Berlim (2025). O filme é interessantíssimo, trata de um tema incomum e é muito bem conduzido por Gabriel Mascaro, mas confesso que gosto mais de sua obra “Boi Neon” (2015). Eu gostei e recomendo. Atualmente em cartaz nos cinemas.

 
 
 

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