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hikafigueiredo

"As Oito Montanhas", de Charlotte Vandermeersch e Felix Van Groeningen, 2022

Filme do dia (141/2022) - "As Oito Montanhas", de Charlotte Vandermeersch e Felix Van Groeningen, 2022 - Pietro (Lupo Barbiero) é um menino de doze anos, morador de Turim, que viaja com sua mãe para uma pequena vila esquecida encravada no meio dos Alpes italianos. Lá ele faz amizade com Bruno (Cristiano Sassella), a única criança que permaneceu na aldeia, Durante as férias de verão, eles ficarão muito próximos, o que se estenderá por toda sua vida, a despeito das idas e vindas de Pietro àquele local.





Baseado no livro homônimo de Paolo Cognetti, o filme retrata a profunda amizade entre dois homens muito diferentes entre si, amizade esta iniciada ainda na infância e que influenciou suas vidas. Assim, a obra discorre sobre relações familiares, objetivos de vida, sonhos, redenção e, acima de tudo, laços de afeto. A história se inicia quando Pietro, um sensível menino da cidade chega a um minúsculo vilarejo em uma montanha perdida dos Alpes italianos. Lá ele faz amizade com Bruno, um garoto da mesma idade que ele, mas criado na natureza, muito mais livre e bem menos sensível que Pietro. Os anos se passam, durante a adolescência e a vida adulta jovem eles se afastam, mas um acontecimento irá juntar novamente os dois homens e fortalecer os laços de amizade prévios. Devo dizer que a obra é uma das mais bonitas histórias sobre amizade que lembro de ter visto. Pietro e Bruno são extremamente diferentes entre si, muito embora tenham uma paixão comum pelas montanhas, paixão está vivenciada de maneira bastante distinta pelos dois - enquanto Pietro sai pelo mundo para conhecer outras realidades e, claro, outras montanhas, Bruno encontra-se encravado no local onde nasceu e tem, naquela natureza, a sua religião. As diferenças pessoais dos dois personagens também não serão obstáculos para os laços de afeto - Pietro mostra-se muito mais aberto ao mundo, às pessoas e às experiências, tem maior dificuldade em se encontrar como indivíduo e escolher quais caminhos seguir, é mais complexo e se pauta por questões morais e afetivas mais sólidas; Bruno é um homem bem mais calado, solitário, simples, mas, por outro lado, sabe exatamente qual é seu lugar no mundo e o que quer da vida, é mais objetivo e infinitamente mais prático e pragmático que o amigo. Acompanhando o surgimento e a solidificação desta amizade, temos a relação de ambos com a montanha - e foi aí que o filme me conquistou de vez. A obra conseguiu me transmitir - como nenhuma outra até hoje - a paixão pela montanha, um sentimento que talvez só seja percebido em sua real profundidade por alguém que comungue deste mesmo amor. Como ex-escaladora reconheço a solidão da montanha e a percepção de uma realidade quase mágica que a montanha impõe, um sentimento que jamais consegui explicar direito, mas que perpassa por uma ampliação dos níveis de consciência e a sensação de conexão com algo maior - sempre disse que, se existe uma consciência superior, um deus ou qualquer coisa do gênero, foi na montanha que cheguei mais perto de um contato fantástico com isto. Pois o filme conseguiu me trazer de volta parte deste sentimento de desapego, onde tudo ao seu redor desaparece e só resta você e a montanha, unificados. A narrativa é linear, em um ritmo moroso, e acompanhada de uma narração em "off" do personagem Pietro. A atmosfera é de reconhecimento, conforto e paz, mas entendo que essa percepção seja bastante particular, causada pelo meu histórico de montanhista apaixonada pelas alturas, provavelmente não se estenderá aos demais espectadores. O filme é marcado por uma fotografia deslumbrante, que privilegia os planos muito abertos, retratando toda a beleza cênica natural - são cenas e mais cenas de paisagens naturais, quase intocadas pelo homem, o que por si só já me "ganha". A fotografia reforça o brilho e a saturação das cores, em especial nas cenas em que o verde das matas e campos prevalece. Hmmmm... quem tem vertigem de altura talvez sofra em algumas cenas de montanha. Algo que me incomodou MUITO e achei completamente deslocada foi a trilha musical, repleta de canções em inglês, enquanto o filme todo se passa em montanhas "estrangeiras", como os Alpes italianos e o Himalaia nepalês e é inteiramente falado em italiano - não sei, as músicas em inglês não couberam ali. O elenco traz, num primeiro momento, os atores mirins Lupo Barbiero e Cristiano Sassella, como Pietro e Bruno, respectivamente. Ambos os meninos estão bastante bem, ainda que os atores não sejam também muito exigidos. Como Pietro adulto temos Luca Marinelli, numa interpretação correta e confiante, e, como Bruno adulto, Alessandro Borghi, também muito convincente. Filippo Timi interpreta o pai de Pietro e Elena Lietti ,a mãe do protagonista. Elisabetta Mazzullo interpreta a personagem Lara e Surakshya Panta, a personagem Asmi. Eu, particularmente, achei a obra extremamente poética, sensível, delicada. Reconheci coisas minhas em ambos os personagens principais e me identifiquei 100% com a questão deles com as montanhas locais. Ainda que me considere suspeita (rs), recomendo demais o filme.

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