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“Assassinato Sob Custódia”, de Euzhan Palcy, 1989

  • hikafigueiredo
  • há 2 horas
  • 3 min de leitura

Filme do dia (91/2025) – “Assassinato Sob Custódia”, de Euzhan Palcy, 1989 – África do Sul, final da década de 80. O professor branco Ben du Toit (Donald Sutherland) vive confortavelmente em uma casa na Cidade do Cabo. Sem ter consciência dos problemas enfrentados pelos negros naquele país e beneficiado pelo regime Apartheid, o professor é surpreendido quando o filho de seu jardineiro é preso e morto em uma prisão do governo. Quando ele sai atrás de respostas, ele descobre as injustiças e humilhações sofridas pela população negra do país e, indignado, torna-se um forte opositor do regime.


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A quem se dispuser a assistir a esse filme, prepare-se: você vai ficar indignado e enojado com tudo o que se permitiu fazer no regime do Apartheid, na África do Sul. É tanta violência, humilhação, desrespeito e injustiça que dá um troço aqui no peito que eu não sei nem explicar. Na história, a vida idílica do professor Ben é abalada pela morte do filho de seu jardineiro em uma situação suspeita. Bem-intencionado, Ben se dispõe a ajudar o empregado, mas, logo, o próprio funcionário é preso e, dias depois, as autoridades divulgam que ele se suicidou. Investigando as informações disponíveis, Ben percebe que nada é aquilo que é divulgado e passa a indignar-se com o que vem acontecendo, tornando-se um ferrenho opositor ao regime. O filme traz o longo e doloroso despertar do personagem Ben que, antes cego às injustiças e desigualdades na África do Sul e à questão racial, é arrancado de sua inércia e de sua paz confortável por acontecimentos que se avizinham. Eu confesso que ainda que o protagonista tenha modificado sua atitude e virado um aliado à causa racial e à luta contra o Apartheid, eu fiquei irritada por suas ignorância e cegueira. Entendo que o protagonista vivia numa bolha e tinha dificuldade em acessar uma realidade tão diferente da sua, mas o tempo que ele demora para acordar e a tola repetição de negação do que ocorria sob seu nariz me deixaram irritadíssima. A obra traz a ideia de que, se você se beneficia de um sistema injusto e nada faz para modificá-lo, você é conivente, independente de agir diretamente ou não para que aquilo se mantenha. É um filme doloroso, um filme que nos deixa indignado e com vergonha – no meu caso – de ser branca e, indiretamente, ser beneficiada por esta condição. É a velha história: não basta não ser racista, tem de ser antirracista. E o que dá mais ódio é que Ben passa a ser execrado pela sociedade branca sul-africana, que passa a rechaçá-lo de qualquer convívio. Bom... é filme para se indignar, do tipo de “Em Nome do Pai” (1993), “Em Nome de Deus” (2002), Philomena” (2013) ou “Fruitvale Station – A Última Parada” (2013), independente da injustiça e abominação que retrate. Convencional em sua forma, o filme traz um elenco estrelado, tendo Donald Sutherland como o indignado Ben, ótimo no papel; Susan Sarandon interpreta a jornalista Melanie Bruwer, pouco aproveitada; Janet Suzman interpreta a odiosa Susan, esposa de Ben; Jürgen Prochnow faz o ainda mais odioso Capitão Stolz; Zakes Mokae faz o papel de Stanley Makhaya; Winston Ntshona surge como Gordon Nugubene; e ninguém menos que Marlon Brando interpreta o advogado Ian McKenzie, como sempre, fenomenal, papel que lhe rendeu indicações ao Oscar (1990), BAFTA (1990) e Globo de Ouro (1990), na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Filme bom demais e sofrido me medida ainda maior, recomendo com afinco. Sexto filme assistido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

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