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“Babystar”, de Joscha Bongard, 2025

  • hikafigueiredo
  • há 22 horas
  • 3 min de leitura

Filme do dia (102/2025) – “Babystar”, de Joscha Bongard, 2025 – Luca (Maja Bons) é a filha adolescente de um casal de vloggers familiar. Acostumada desde o berço à exposição midiática, Luca é a estrela do vlog, posto ameaçado quando seus pais decidem ter um segundo filho, o que leva Luca ao ressentimento e a questionar toda sua vida.


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O ótimo filme de estreia do diretor Joscha Bongard, extremamente atual, discorre sobre o excesso do uso de redes sociais e da hiperexposição midiática, levando a um esvaziamento da vida real. Na história, Luca é uma adolescente criada em frente às telas – desde a gravidez de sua mãe, o cotidiano da família é exposto nas redes sociais, possuindo milhões de seguidores. Na internet, sua vida é mostrada como perfeita e idílica, mas a realidade não é assim tão cor-de-rosa. Muito embora Luca tenha acesso a todos os bens materiais que possam ser adquiridos, ela não tem qualquer vida além daquilo que é exposto. Sem amigos, Luca sente-se profundamente sozinha, recorrendo a uma IA para ter com quem conversar. Quando seus pais decidem ter mais um filho, Luca ressente-se, pois percebe aquilo como um risco ao seu posto de estrela da casa – e é nesse momento que ela vai começar o seu despertar. Ao tentar trilhar algum outro caminho, Luca descobre sua inabilidade social – ela não sabe se relacionar com o outro no mundo real e, ainda que bem-intencionada, ela acaba por manipular e influenciar pessoas. Luca entra numa espiral de crise existencial, pois percebe que não possui qualquer vínculo real – nem mesmo com os pais, mais preocupados com o vlog do que com ela -, não vivencia sentimentos genuínos, necessita de validação constante e é vista por todos como um produto e não um indivíduo. Mesmo ao se envolver com uma pessoa real – Julie -, logo ela percebe que a aproximação é por interesse e que não há afeto verdadeiro na relação. Descobre, também, que laços de afeto não podem ser comprados ou adquiridos em troca de favores, eles precisam ser construídos ao longo do tempo. Luca percebe seu vício em redes sociais e sua dificuldade em romper esse ciclo de exposição e descobre, da pior forma, o quanto aquele estilo de vida voltado às redes sociais a desumanizou e a afastou da vida real. Destaque para a cena do restaurante – como um adolescente acostumado à hiperexposição faz para chamar a atenção dos pais? Destaque, também, para a cena da irmã fictícia, única a não ter medo da influência de Luca e ser absolutamente sincera com a protagonista. A narrativa é linear – qualquer “memória” da protagonista é acessada através dos capítulos do vlog. O ritmo é marcado e a atmosfera é de desalento – ainda que Luca possa ser irritante e manipuladora, ela é, claramente, vítima da situação. O filme usa, com habilidade, as imagens de câmeras de segurança da casa, as gravações dos celulares da família e os rewiews do vlog para ajudar na narrativa. Quanto às interpretações, gostei bastante dos trabalhos de Maja Bons como Luca, Bea Brocks como a mãe e Christian Koch como o pai – a família perfeita na tela é profundamente disfuncional da vida real, ainda que não seja tão diferente do que é mostrado nas redes sociais. O filme tece um diálogo bastante interessante com as obras “Rede de Ódio” (2020) e “Ninho do Mal” (2022). Eu gostei demais do filme e espero que chegue aos nossos cinemas. Décimo sétimo filme visto na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

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