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  • hikafigueiredo

"Barravento", De Glauber Rocha, 1962

Filme do dia (15/2020) - "Barravento", De Glauber Rocha, 1962 - Após anos distante, Firmino (Antônio Pitanga) retorna à pequena comunidade de pescadores onde cresceu. Formada por descendentes de escravos, a aldeia vive na miséria, seguindo as antigas tradições religiosas dos negros africanos, na forma do candomblé. Decidido a libertar seu povo das travas religiosas impostas pelas tradições e mães de santo, Firmino enfrenta Aruã (Aldo Teixeira) considerado um santo, protegido de Iemanjá. Para tanto, ele contará com a ajuda de Cota (Luiza Maranhão) para seduzir o rapaz que, pelas tradições, não poderia ter mulher alguma.





Primeiro longa metragem dirigido por Glauber Rocha, o filme já traz o discurso transgressor e revolucionário que caracterizaram a filmografia do diretor, podendo ser considerado o nascimento do Cinema Novo. Temos, aqui, um embate entre o "velho" (as tradições, a religião, a ignorância e a submissão aos poderosos) e o "novo" (a busca por mudanças e o pensamento revolucionário), nas figuras do Mestre e de Aruã por um lado e de Firmino (segundo o próprio personagem narra, um "elemento subversivo"), por outro. O filme demora um pouco a engrenar, cerca de 20 a 30 minutos para que o espectador realmente se situe, mas, após isso, ele se desenvolve bem. Aliás, "Barravento" é o filme de mais fácil entendimento da filmografia do diretor, dado a obras mais complexas e herméticas. Em contraposição ao discurso político, contrário às tradições e à religião, a obra retrata, em diversas passagens, justamente todo o manancial de tradições dos descendentes de escravos - temos, por exemplo, os rituais do candomblé, as músicas tradicionais, a mitologia religiosa e a capoeira, tudo magnificamente retratado. Das cenas, destaco a beleza do banho de Cota nas águas do mar e a ferocidade da tempestade no mar, cirurgicamente construída pela montagem e pela edição de som. A obra segue a estética do Cinema Novo - várias câmeras na mão, certo tom documental, aversão ao excesso de esmero estético. Admito que algumas cenas fora de sincro e certos cortes bruscos na edição de som me incomodaram. As interpretações penderam para certo exagero, uma coisa meio teatral, discursiva, que tenho certeza que era determinação de Glauber Rocha (já que continuaram em outras obras do diretor). Das atuações, gostei bastante do trabalho de Luiza Maranhão, mais do que do resto do elenco. A obra é ótima e já acenava a genialidade do diretor. Curti e recomendo.

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