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  • hikafigueiredo

"Barry Lyndon", de Stanley Kubrick, 1975

Filme do dia (325/2021) - "Barry Lyndon", de Stanley Kubrick, 1975. Inglaterra, século XVIII. Redmond Barry (Ryan O'Neal) é um jovem irlandês humilde e sem posses que se apaixona pela prima Nora (Gay Hamilton) que, embora incentivasse suas investidas, o pretere por outro pretendente, um homem mais velho, com posses e renome junto à corte. Inconformado, Redmond desafia o pretenso noivo para um duelo, ferindo-o mortalmente. Para evitar sua prisão, Redmond abandona sua casa e cai no mundo, iniciando a aventura de sua vida.





Após realizar filmes contundentes, críticos e ousados como "Dr. Fantástico" (1964), "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968) e "Laranja Mecânica" (1971), Kubrick volta-se para um projeto bem mais tradicional - fazer um filme baseado no romance de época "As Memórias de Barry Lyndon", de William Makepeace Thackeray. A obra trata da história de ascensão e queda do personagem central, originalmente Redmond Barry, que, a certa altura, passa a ser denominado Barry Lyndon após seu casamento com uma senhora da nobreza. Na realidade, a obra descreve não apenas a escalada do protagonista rumo à aristocracia e posterior declínio social, mas, muito mais, a perda da inocência do personagem, que, paulatinamente, passa da ingenuidade juvenil para o cinismo da vida adulta: se as primeiras ações e decisões de Barry encontram-se apoiadas em um ideal de virtude e dignidade, pouco a pouco seu comportamento desvirtua-se e ele passa a aspirar, apenas, ascensão social e riqueza, custe o que custar, abandonando qualquer motivação elevada ou moralmente defensável. O filme, de três horas de duração, é, inclusive, dividido em duas partes e fica bastante nítido que a primeira se refere ao movimento ascendente e, a segunda, à queda vertiginosa (social, financeira e moral) do protagonista. A obra é linear, em ritmo muito lento, e bastante diferente dos filmes imediatamente antecessores do diretor, muito mais instigantes e questionadores que este. Do ponto de vista formal, a obra é extremamente convencional e Kubrick abandona qualquer subversão à linguagem cinematográfica maisntream. Esteticamente, o filme é um deslumbre, impossível não admirá-lo em quase êxtase. A direção de arte de época é riquíssima e impecável e a fotografia chegou ao limite ao filmar todas as cenas com luz natural, muitas das quais a luz de velas, o que exigiu câmeras e lentes especiais, ultramodernas, com um resultado arrebatador. A obra foi agraciada com os Oscares (1976) de Melhor Direção de Arte, Fotografia e Figurino pela perfeição de seu trabalho. O elenco principal conta com Ryan O'Neal como Barry Lyndon - o personagem mostra-se complexo, pois, ainda que aja de forma pouco ética em muitos momentos, por vezes apresenta-se bastante humano, como na cena do duelo com o enteado, negando-se a tirar vantagem de um infortúnio, ou na relação amorosa com o filho pequeno, e O'Neal consegue uma atuação suficientemente boa, capaz de abarcar essas nuances do personagem; no papel de Lady Lyndon, Marisa Berenson - eu achei a personagem um pouco insossa, sem espessura, ela passa mais tempo olhando o vazio do que fazendo seja lá o que for, então não sei se a atriz teve participação na má impressão que eu tive em relação à sua presença na história, mas é certo que a personagem mostra-se esvaziada e a atriz vai a reboque. Evidente que, tendo a direção de Kubrick, um diretor que tinha absoluto controle do fazer cinematográfico, a obra não poderia ser menos que ótima, mas o fato de ser muito convencional me decepcionou um pouco. Inegável que o filme é belíssimo, porém, na minha visão, aquém de outros filmes do diretor e definitivamente menos autoral. Ainda assim, vale muitíssimo a visita, por isso recomendo.

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