Filme do dia (330/2021) - "Barton Fink", de Joel Coen, 1991. Nova York, 1941. O autor de peças teatrais Barton Fink (John Turturro) começa a ter reconhecimento pela crítica especializada por seus textos crus acerca de homens comuns. Após seu último sucesso, ele recebe um convite para ir para Los Angeles e escrever um roteiro para cinema. Ele aceita o desafio, mas, assim que pisa em Hollywood, é imediatamente acometido de um bloqueio criativo.

Uuuufff. Filme difícil de escrever sobre. Aparentemente simples, é uma obra com uma complexidade interna, referências e simbolismos, alguns de difícil compreensão, que deixam a dúvida acerca do que os criadores - Joel e Ethan Coen - quiseram dizer. O filme trata, a princípio, do processo criativo e dos caminhos percorridos pelos autores para alcançar sua obra, qualquer que seja ela. Mas, também, o filme trata de diferenças entre produtos culturais diversos, mais especificamente, entre as peças da Broadway e os filmes de Hollywood, ou, o que poderíamos considerar a "alta" cultura e a cultura de massa. Na história, o personagem Barton Fink, aclamado pela crítica teatral, sente-se deslocado no meio cinematográfico e passa a sofrer de um forte bloqueio criativo. Ele busca ajuda na figura de um renomado autor, só para descobrir que ele, engolido pela indústria cinematográfica, tornou-se um alcóolatra e sequer foi o verdadeiro criador de seus últimos roteiros. Um evento traumático fará com que Barton Fink busque ajuda de um vizinho e, surpreendentemente, desfaça seu bloqueio criativo e o faça produzir loucamente - mas estará, ele, preparado para "mudar a chave" da produção teatral para a de cinema? A narrativa é linear, em um ritmo inicialmente lento, mas que, aos poucos, ganha agilidade até tornar-se quase frenético. Como boa parte dos filmes dos irmãos Coen, a obra é repleta de situações e acontecimentos bizarros, alguns praticamente inexplicáveis, que, aqui, ganham múltiplas interpretações (cheia de dúvidas, fui ler um pouco a respeito do filme... só me aumentou as dúvidas e abriu um mundo de diferentes leituras para os mesmos elementos da história, uma desgraça... rs). Algo que merece destaque no filme é a ambientação, profundamente responsável pelas diferentes atmosferas que surgem aqui e ali na história. Assim, temos, de um lado, o decadente hotel onde Barton Fink se hospeda por, segundo ele, "tempo ilimitado" - escuro, sinistro e estranhamente desabitado apesar de sinais de existirem outros hóspedes através de sons e dos sapatos no corredor, prontos para serem engraxados, o hotel é responsável por uma atmosfera pesada, sufocante, que me lembrou uma cova, como se o personagem estivesse sendo enterrado vivo; no extremo oposto, temos os ambientes ligados ao produtor de cinema Jack Lipnick, sempre luminosos, sofisticados e em perfeito estado de conservação, trazendo um clima de glamour, totalmente conflitante com a experiência de Fink no hotel. Aliás, o hotel nos remete diretamente a outro hotel famoso no cinema - aquele de "O Iluminado" (1980), principalmente pelos planos em perspectiva, evidenciando o ponto de fuga. É evidente, ainda, o bom trabalho sonoro da obra, em especial no que se refere aos momentos em que o protagonista está no hotel e ouve os demais hóspedes. O elenco é formado, principalmente, por John Turturro como Barton Fink, numa interpretação inspiradíssima - o ator consegue transmitir a montanha-russa emocional em que o protagonista se encontra, que passa da apatia ao desespero e deste a um estado de epifania, uma atuação brilhante que lhe rendeu o Prêmio de Melhor Ator em Cannes (1991); contracenando com ele, um assustador John Goodman como o personagem Charlie, vizinho de quarto de Barton Fink - como Turturro, Goodman também mostra um trabalho muito consistente, possibilitando diversas leituras do personagem que interpreta (o que se justifica pela história), levando-o a ser indicado para o Globo de Ouro (1992) de Melhor Ator Coadjuvante ; Judy Davis interpreta a personagem Audrey, de importância vital na trama, igualmente bem no papel; e Michael Lerner interpreta o produtor Jack Lipnick, numa evidente paródia dos grandes produtores da época de ouro de Hollywood, pelo papel, Lerner foi indicado ao Oscar (1992) de Melhor Ator Coadjuvante. O filme foi agraciado com a Palma de Ouro em Cannes, ficando, Joel Coen, com o prêmio de Melhor Diretor no festival. Eu entendo o frenesi em torno do filme, principalmente pelo sem fim de referências e pelas simbologias nele contidas, mas, pode não agradar o espectador que busca um entretenimento mais leve e facilmente digerível. Eu achei o filme um bocado estranho, mas ele me manteve "ligada" o tempo todo. Continuo com dúvidas acerca de pontos do filme e, tudo indica, que elas permanecerão para todo o sempre. Ainda assim, recomendo conhecê-lo.
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